quarta-feira, junho 02, 2004

Ser...

Se meu suplício é ouvir palavras ocas,
O meu ofício é então calar as bocas.

Se o meu tédio é represálias receber,
Curvar-me a alguém será o meu dever.

Se p’ra entreter as massas eu nasci,
Farei tudo,
Com tudo aquilo que eu aprendi.

Mas chegou a hora de descer um degrau,
Descanso agora, por não ser assim tão mau.

Se o meu desejo é só estar e ser,
Paciência, quem não me quer querer.

Se apenas quero ser só e existir,
Para quê nestas escadas vou subir?

Se meus desejos provocam a comichão,
Apenas cocem
Pois ouvirei a voz do meu coração.

Se quero e posso porque não assim fazer,
E às normas do normal não me render?

Se nos meus sonhos nas nuvens posso voar,
Para quê só no real eu vou poisar?

Se eu muito quero e posso e tu não,
Lamento muito ver-te do ar aí no chão.

Se o sonho é crime então sou assassino,
Cometo crimes como quando fui menino.

Se me vês ainda, adulto, como uma criança,
É porque em ti já resta pouca esperança.

Se tu não és então deixa-me eu ser,
Porque ser é nobre, assim como o querer.

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