terça-feira, junho 22, 2004

Os accionistas de Bush

Quando George W. Bush subiu ao poder encontrávamo-nos no início de 2001 e o barril de crude comprava-se em Nova Iorque por 26 dólares. Um ano depois, e na sequência dos ataques do 11 de Setembro, os EUA declararam guerra aos Talibãs no Afeganistão por, alegadamente, albergarem Osama Bin Ladin. O barril valia 17 dólares. Após uma vitória fácil, a colagem dos atentados ao Iraque de Saddam Hussein prevaleceu, mesmo contra a posição da ONU e da comunidade internacional.
Sabemos hoje que um dos principais motivos para tentar retirar Saddam do poder era «o equilíbrio geopolítico da região», nas palavras dos analistas, e que se traduzia na necessidade dos EUA meterem na ordem um país que constantemente desestabilizava o mercado do «ouro negro» com a negociação – quebrando o embargo – do crude. Um ano após a deposição de Saddam, o insucesso na implementação da democracia e os ataques avulsos da oposição iraquiana aos EUA arrastam Bush para umas eleições que prometem, em Novembro, ser bem dolorosas. Qualquer que seja o resultado.
O que parece vir ao de cima – com a catástrofe na gestão de política externa americana – é que, ao longo de um mandato em que o mundo ficou mais perigoso graças a si, Bush soube agradar a alguém. Não foi a Israel, muito menos aos eleitores americanos ou aos que combatem o terrorismo. O compromisso de Bush foi, tal como um CEO de uma empresa, criar valor para os seus accionistas: os «lobbies» do petróleo, da defesa e do armamento que o colocaram no poder. E nesse departamento, os accionistas não têm razões de queixas. Á umas semanas, o petróleo atingiu o valor mais alto de sempre.
As opções de Bush podem agora resultar, em Novembro, numa hecatombe política. Porque o presidente esqueceu-se que os eleitores são a sua principal fonte de capital. Eles é que são os verdadeiros accionistas.

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