quinta-feira, junho 03, 2004

O rio de prata

Viram a Lua ontem? Eu vi, e hoje o que saíu foi isto:

Já viste a Lua hoje?
Brilhante!
Cheia de vida,
Inchada de brilho,
À noite, quando ela foge.

Afortunado rio,
Que recebe dela, seu propósito,
Que visto da minha janela,
Confunde-se com uma passagem,
Para uma outra dimensão.
Do luminoso ponto,
Em que a noite estende seu negro lençol,
A Sonhadora emana,
Para o rio a sua prata,
Como salpicasse um pó,
Mágico e misterioso.
Ilusionista és
Ludibriando o mundo,
Que ali há uma passagem,
Para uma outra dimensão.

E escorre o rio de prata,
Em murmúrios tímidos
Exalando perfume a maresia,
Que até nós às vezes chega de dia
Quando os ventos do Norte,
Sopram docemente,
E trazem dos rios e mares,
Generosamente,
A fragrância das silenciosas águas,
Que no véu escuro da noite,
Escorre e desagua,
Minha Sonhadora Lua.
Mas às escondidas, murmurando,
Com passo lento, sussurrando,
Os navios deslizam pelo rio,
Colhendo a prateada luz.

Da janela do meu lar,
Contemplo esta tela,
Que só um sentimento de gratidão,
Me consegue consolar,
E continuar,
A inundar-me de prata,
Neste momento doce de solidão.
Conto as estrelas,
Fecho a janela.
Contemplo uma última vez,
A beleza que o mundo detém.
Talvez amanhã se veja,
Ou não, um rio de prata,
Pois poderá estar ela farta.
E se de dia o Sol for bom,
Contemplo o rio de ouro,
Brilhante e genuíno,
Meu Sol, meu menino,
Pinta com dourado tom.
Que nos nossos olhos brilham,
E nos cegam a visão agreste,
De pensamentos que escurecem,
A alma nos nossos dias.

Bons amigos estes dois irmãos,
O Sol e a Lua,
Que nos doam telas pintadas,
Sem esperarem algo em troca.
Só os nobres são assim,
Não aqueles que se debruam,
Com o vil metal, o ouro.
Esses cegam as próprias almas
Que esquecem por completo,
Que dar à espera de receber,
Não é nobreza:
É avareza.

Se espreitares pela janela,
Dá-me luz, imaculada,
Porque se vou ver o rio assim,
Estarei a ver-te, minha amada.
Para dizer que és formosa,
De me dares tão bela,
Ó Lua, és bondosa
Colorida e nobre tela.

Ó Lua, vem.
Dá-me um vintém,
Sou pobre,
Mas sou nobre,
Não sou avaro,
Para ninguém.

“Toma a prata,
Ela é tua,
Já estou farta,
Nua estar.
És a pessoa,
Mais bondosa,
Que à noite,
Me vem falar”.

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