terça-feira, outubro 26, 2004

The Lovers



1928 - Rene Magritte

segunda-feira, outubro 25, 2004

Recomendado...


Mais um bom filme brasileiro...
Carandiru

.

O filme baseia-se na experiência do Dr. Drauzio Varella como médico na prisão, culminando com o Massacre de 1992, que resultou no livro "Estação Carandiru".

"A 2 de Outubro de 1992 300 agentes da Polícia Militar de São Paulo irrompem pela prisão de Carandiru, pondo cobro a um motim, 111 pessoas foram mortas, nenhum deles era agente da PM.
Apenas três lados podem contar o que houve naquele dia: A polícia, Deus e os detidos; eu ouvi estes últimos. "
Drauzio Varella

quarta-feira, outubro 20, 2004

Diabo amarelo com olhos de fogo...

Fotografia: Joel Santos

Vês?

a pedido do Edmond...



Não tenho referencia do autor, mas é uma fotografia soberba.
A perfeição da forma.

para o meu amorzinho que está em casa doente...



O Amor cura muitos dos males deste mundo...
... infelizmente a gastroenterite não é um deles!


Prémios da semana...II


O prémio "isto precisa é de DOIS Salazar" vai para...

O ministro Morais Sarmento, porque todos concordamos que deve "haver limites à independência", quer dizer qualquer dia estamos perante "um modelo perverso" em que cada um pode formar a sua opinião e transmiti-la...
A Constituição da República Portuguesa aprovada em 1975 e
actualizada em 2004, essa malandra, tem o desplante de afirmar estas
barbaridades:

Art 2º: A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa”
(...)
Art. 38º:
(Liberdade de imprensa e meios de comunicação social)
1. É garantida a liberdade de imprensa.
(…)
6. A estrutura e o funcionamento dos meios de comunicação social do sector público devem salvaguardar a sua independência perante o Governo, a Administração e os demais poderes públicos, bem como assegurar a possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião.


Quem se lembra do sketch do Herman Enciclopédia, em que o Jornalista que lê as noticias tem uma arma apontada à cabeça???
Já dizia o outro senhor....
"Um jornal pode ser muito mais que um jornal. Pode ser, sobretudo, um
organizador colectivo."

Lenine.

Prémios da semana...


O Prémio "se achavam que eu não podia ser mais estúpido enganaram-se" vai para...

O ministro Gomes da Silva... político tuga que sabe quando, como e onde afirmar, afinal "as cabalas existem independentemente da vontade subjectiva de as constituir".


terça-feira, outubro 19, 2004

No meio do stress de impostos e declarações electrónicas, a minha mente foi invadida de recordações do meu Avô. Aquela pessoa que me ensinou a jogar à bisca dos três, das horas infindáveis que passamos a jogar à sueca (sem nunca o conseguir vencer), de estar sempre a reclamar que não conseguia dormir (quando quem estava no quarto ao lado é que não conseguia... com o barulho do ressonar do “velho”). E de quando dava futebol na televisão, ele perguntar sempre “é o Benfica?” e eu ter de estar a explicar “não avô, o benfica foi ontem...”.

Não sei se já alguma vez tinha aqui escrito algo sobre o meu Avô, mas apeteceu-me. Não sei se por não conseguir disfarçar este sorriso estupido com que estou ou se por este nó que sinto na garganta...

Foi com ele que aprendi o significado de mortalidade. “Ninguém vive para sempre”.
Um grande Beijo Avô, onde quer que estejas.


em tempo de crise...

O jornal Público diz-nos que irá ser criado na Presidência do Conselho de Ministros o Gabinete de Informação e Comunicação (GIC), já aprovado pelo Conselho de Ministros e que custará, em 2005, cerca de dois milhões de euros, devendo ter entre 20 a 30 pessoas.
Com o objectivo de "elaborar planos de comunicação relativos às políticas públicas aprovadas e à acção governativa; estabelecer as relações com os meios de comunicação social; apoiar assessorias e outras estruturas de imprensa; planear e apoiar campanhas de informação a promover; organizar e apoiar conferências de imprensa dos membros do Governo, bem como sessões de informação e esclarecimento; elaborar conteúdos internos para plataformas de informação e comunicação governamentais; elaborar relatórios de imprensa; promover a formação profissional na área da informação e comunicação e tratar, arquivar e divulgar a informação produzida pelos órgãos de comunicação social"

Admiravelmente em tempos de crise, que não é para todos, e dadas as inerências desta "central" e dado que cada ministério já tem os seus acessores e gabinetes de imprensa/ comunicação, não passou pela cabeça emagrecer as já existentes estruturas!!!! è que em números, cada assessor da central irá custar ao herário público qualquer coisa como 66.667 euros/ano.

No comments.
... há que definir prioridades

segunda-feira, outubro 18, 2004

Conversas da treta

Vim agora do almoço e acabei de ter uma conversa da treta. Quem não tem uma boa conversa da treta? Às vezes são as que sabem melhor pois nem sempre apetece ter aquelas conversas filosóficas e místicas, por sentirmos o raciocínio preguiçoso. Mas para mim tem de ser uma boa conversa da treta. Não ter uma má conversa da treta. E isso tem-se quando somos abordado pela mesma pessoa munida das mesmas frases. Cada vez que encontro aquele espécime tenho de levar com a conversa do género: "Bem, estou cá com um sono que só me apetecia estar em casa" ou o pensamento do dia "foda-se, ainda hoje é segunda-feira e nunca mais chega o fim-de-semana"; e a discussão meteriológica do costume: "O tempo hoje está uma merda" ao qual se consegue responder às vezes "sim, tens toda a razão. O tempo hoje está uma merda". Mas o leque de conversas da treta expande-se até ao horizonte. Querem mais exemplos? "Estou farto disto."; "só me apetece é estar em casa ou na praia"; "A vida é uma merda"; "Nunca mais chega o final do mês"; "Não tenho tempo para nada"; "Não me apetece fazer a ponta de um corno", e outras frases célebres que perfumam um ar de uma tarde chuvosa outunal de segunda-feira.
Antes de mais nada, gostava de dizer, não vão os leitores acharem que sou presunçoso e detentor de toda a moral do mundo, que todas e muitas mais frases desta escadaria pensante já foram em tempos utilizadas por mim, e os meus amigos que o digam. Agora chegou a minha vez de acartar com este tipo de conversas e, sinceramente lamento sentir o estado depressivo das pessoas, mesmo das que nos são mais chegadas. Não deixam de nos preocuparmos por gostarmos delas. Agora para os que nada nos dizem, a nossa vontade é sempre outra: apedrejá-los verbalmente de "vai mas é trabalhar, ó meu calão" ou "eu se fosse a ti já tinha cortado os pulsos. Contribuias sem dúvida para o desenvolvimento do país" ou uma expressão antiga mas eficaz do tipo "pá, vai p'ró caralho!".

Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Sou sincero quando digo que detesto ouvir gente com a mania que são melhores que os outros, e esses são sempre os primeiros aos quais tenho vontade felino de os derrubar psicológicamente e colocá-los no seu devido lugar, como um rapaz que conheci que cada frase que saía daquela boquita que só servia para fumar, era para fazer sentir os outros abaixo dele. ainda lhe cheguei a perguntar se tinha algum problema de afirmação, que falava dos Pós-Modernistas da música clássica, que utilizavam acordes de sétima de nona, invertidos com um ré-bemol ao quadrado, logaritmo de sete. Depois vieram os românticos e os Neo- Românticos que, ao contrário dos Pós- Modernistas utilizavam acordes de sétima maior dissonando com os de menor de nona. Lembro-me de ter contado estas merdas à minha namorada, e ela quase me matou de tanto rir, quando começou a burlar a conversa do outro dos pós modernistas com cenas do tipo "yá, yá, e depois vieram os visigodos e deram cabo disto tudo. Expulsaram os romanos e... olha, olha pergunta lá ao bacano se conhece o compositor chamado Zoloft". Foi um regabofe de riso.

Eu não sei se a melhor coisa a fazer será ouvir e esperar que o tempo passe depressa, ou arranjar uma desculpa evasiva como "Eh, pá. Tenho de me ir embora. É que tenho o javali ao lume", mas tento ser cuidadoso com o que digo às pessoas. Mas os únicos que eu tenho um ombro sempre disponível para virem chorar quando quiserem são os meus entes queridos. Os que não são, peço imensa desculpa mas não tenho lombo que aguente para ti, porque o que realmente gostavas de fazer na vida era beber copos, fornicar, ter luxo sem fazer nada para o ter, fumar ganzas, enfim: intoxicares-te. Infelizmente, meu caro amigo, a vida é mesmo uma merda, mas desculpa lá qualquer coisinha mas vou sair. Tenho de fazer para que a vida seja menos merdosa.

Adieu

Edmond

domingo, outubro 17, 2004

Gladiadores

Acabei de vêr a primeira parte do SLB 0 - FCP 1. Grande golo do MAcarthy que retirou o ânimo aos benfiquistas, mas deixando os pormenores do jogo de lado, ocurreu-me um pensamento sobre a evolução da humanidade.

Coliseu de Roma na altura em que a Europa era sucessivamente romanizada por esse império que reinou durante séculos.
Uma arena repleta de romanos ávidos de verem a morte ao vivo de diversas maneiras nos "jogos" que divirtam as massas. Cristãos devorados por esfomeados leões; gladiadores que lutavam pelo seu único bem que lhes pertencia: a vida. Vencia o mais forte, em que alma do mais fraco era ceifada pela Morte. Os gritos romanos e entregues aquela barbárie pulverizavam o ar de loucura. Aplausos soltos e aclamações ao seu gladiador preferido vencia mais um combate, mais uma batalha sobre a sua própria vida. A arena era manchada de sangue, onde lanças quebradas pela violência do jogo se espalhavam pela areia; cadáveres a serem arrastados para fora da arena por não terem já nenhuma utilidade. ISto, e muitos mais jogos de entretenimento de Morte, barbárie e grosseria para divertir um império infectado pela loucura que advém de excesso de poder.

Dias actuais.......

Estádio da Luz. 60.000 pessoas a torcerem pela sua equipa num Benfica - Porto onde os poucos adeptos portistas soltam gritos de alegria quando Macarthy marca um golo de levantar os próprios Deuses das bancadas. Acabou de serem expulsos um jogador de cada equipa por uma troca de gestos impróprios da conduta de um jogador. O relvado ainda continua verde e nem uma única gota de sabgue a manchar a arena. Mesmo que a equipa da maioria massa adepta do seu clube perca, todos regressarão a casa, pois descarregaram num jogo toda a lixeira acumulada nas suas rotineiras vidas. Coloriram com os cachecóis; brindam os seus jogadores de aplausos quando alguém brilha na saudável peleja.
Independentemente do resultado, toda a multidão regressará a casa com os lances na sua memória, com a cor, com os cânticos que ainda soam nas mentes dos amantes do futebol, e os gladiadores dos tempos modernos - os jogadores, descançam e treinam para o próximo "combate".

Quem diz que o mundo caminha para o fim, digo que discordo por completo. Vivemos uma época efémera com o grave e delicado cancro, que tem atordoado o mundo de violência com o terrorismo; morrem não sei quantas crianças à fome num segundo; corrupção em todos os sectores governamentais, o flagelo hediondo da pedofília, em que os pederastas ainda molestam milhares de crianças no escuro e em segredo.
Acredito na evolução da humanidade. No outro dia li num artefacto que "quando nasce uma criança nasce uma nova esperança". Não direi que o mundo é belo, pois não o é, mas acredito convictamente que cada um de nós pode contribuir para a sua evolução. Tapo os meus ouvidos a quem diz ignomínias sobre " isto cada vez está pior" sem mover uma palha. É claro que não sou detentor de uma moral bíblica pois isso ninguém, mas um simples acreditar já é uma contribuição significativa para a evolução da humanidade, porque enquanto formos vivos devemos dar um contributo ao mundo. Identifico-me com a frase de um filósofo grego que "não sou nem grego nem troiano; sou um simples cidadão do mundo".

Sendo mais realista, vejo no meu país pessoas a queixarem-se de barriga cheia. Para eles é-lhes mais fácil dizer que as coisas estão piores sem recorrerem às histórias comuns dos nossos pais na altura em que pão e água eram bens preciosos. Hoje, ouvindo o que as pessoas que muito o seu nariz torcem ao trabalho me dizem, talvez os bens preciosos sejam outros.
Séneca disse que o mais sábio dos homens é aquele que pouco tem. É utópico em dias que, felizmente, os restaurantes, cinemas, teatros, estádios de futebol, discotecas e outras arenas para continuarem a divertir as massas, as pessoas deixarem seus lamentos de lado, e olharem com uma mente aberta que uma grande parte da população mundial daría tudo para terem o seu "pouco" de que tanto se lamentam.

Vou acabar de ver o jogo, polémico por um golo claríssimo por parte dos "gladiadores vermelhos".

Edmond

sexta-feira, outubro 15, 2004

Bom fim-de-semana

Já não digo mais nada hoje pois não quero ser um chato para ninguém.

Arrivederci

Sê só tu

Tu não és nada tu,
Tu és como alguém,
Visto isto a olho nu,
Se não és tu,
Não és ninguém.

O seres tu, tu negas.
Porque não seres tu só?
Devias ter dó de ti,
Pois ninguém
De ti tem dó.

Que farás tu de ti,
Se alguém de ti gostar?
Vais gostar mais do alguém,
E de ti, tu,
Vais-te odiar?

É que alguém só é,
Quem ele quer ser.
Mas há quem seja,
Outro alguém,
Sem ninguém querer.

Mas para isso opta tu,
E opta por tu seres.
Porque se tu não fores,
Terás de todos,
Em ti seus quereres.

Edmond - 14/10/04


Tem dó

Tem de ti um pouco dó,
E não faças marcha à ré.
Se quiseres vem até mim,
(A seguir ao mi vem o fá)
Posso ser, quem sabe, o sol,
Tu o meu. Vá lá, vá lá!,
O Sol já tem por si,
De todos nós um pouco dó.

Tem de mim agora dó
Não sei se embruteci,
Dá-me o teu perdão. Dá, lá.
És só tu meu girassol
(Antes do sol é o fá),
Vem tu cá até mim,
Faz agora marcha à ré,
Vou por agora nisto fim,
Faz do ‘não’ agora ‘sim’
Minha flor, meu jasmim,
Diz sim ao beijo. Vá lá, tem dó

Edmond – 14/10/04

Ataques de Pânico

Há uns anos atrás descobri que tinha ataques de pânico. Mas só confirmei que sofria de ansiedade e de outras merdas más, quando resolvi ir ao médico. Nessa altura pensei estar insano.
Para vocês perceberem que doença é esta, imaginem o que é estarem num restaurante, daqueles jantares chatos e secantes do trabalho como o são nos restaurantes que, em vez de relaxar e descontrair, fico mais encolhido. E esse encolhimento vai sendo pregressivamente maior, à medida que o tempo passa e que se fica sem respiração. Inventa-se desculpas esfarrapadas para ir até à casa-de-banho, sem vontade de fazer qualquer necessidade fisiológica, ou vir até cá fora e usar a expressão "vou apanhar ar", e gera-se uma sufocante ansiedade que a merda do jantar acabe. Mas um ainda vai fumar um cigarro, outra levanta-se para tirar a bela fotografia, e nós ali apertados e encolhidos, a pensar que vamos morrer. Sublinhe-se que não se morre de um ataque de pânico mas a sensação que nós temos não desaparece, e as dores de cabeça são desesperadamente dolorosas.
Fartei-me de me esconder no meu sítio, pois mesmo nele encolhia. Sentia-me um bicho fechado num vidro qualquer para experiências laboratoriais; sentia que não era capaz de viver por não ser livre. Olhava em redor e as pessoas riam-se livremente e agonizava-me por não fazê-lo da mesma maneira. Pensava que os tempos do antigamente é que eram bons. Ria-me com vontade, corria, saltava, tinha amigos ao meu lado, tive namoradas como toda a gente, e de repente, vía o meu mundo a ruir aos poucos e aí, entrei em pânico. Foi quando percebi que não estava nada bem, e o desejo de morrer era enorme pois não fazia sentido viver daquela maneira maquinal, e pensava sempre que a culpa era só minha.

Decidi ir ao médico depois de uns anos (o meu primeiro ataque de pânico foi há 6 anos atrás dentro do cinema). Fui atendido por uma mulher asquerosíssima de fisionomia e maneira de ser. Lembro-me perfeitamente de ter vontade de me levantar e chamar todos os nomes aquela criatura, pois sentia-me doente num desespero de alguém que queria deixar de o ser.
Receitou-me uns anti-depressivos e uns ansiolíticos que aliviavam aquela balão que parece termos dentro do peito.
Ao princípio pensava não ser normal como as outras pessoas mas nunca me senti uma pessoa normal nem sei o e nem quero saber o que isso é. Na minha opinião, quanto mais uma pessoa é ela própria mais normal essa pessoa é. Para mim uma pessoa anormal é a que se esforça ser ou ter uma vida que toda a gente tem. E foi assim que começaram os meus ataques de pânico.

Sublinhe-se que cada caso é um caso específico. Acho estúpido generalizar por conhecer apenas um caso, mas digo-vos que muita gente tem o que ainda tenho, pois a doença é controlada e não curada. Note-se que é uma doença psíquica mas com o desenvolver pode tornar-se também física. Não sou especialista na matéria e não tenho sido acompanhado por um especialista de "gente insana", mas quanto mais a assumo e exteriorizo, mais "eu" me sinto; quanto mais faço o que me vai na alma, quanto mais escuto o que o coração me diz, mais normal me sinto e menos pânico tenho da vida. Qualquer pessoa é vulnerável à chamada doença do século, e se querem saber, não pesquiso nada sobre o assunto. Procuro sim aproveitar o tempo fazendo aquilo que quero e tenho vontade. E assim, fui fazendo progressos com a ajuda dos comprimidos para a loucura, como eu lhes chamo. Consegui voltar a estar com os meus amigos, travar conhecimentos com outras pessoas, colorir um pouco o meu mundo em ruínas, ouvir com interesse o que as pessoas me tinham para dizer, pois nessa altura eu nem conseguia ouvir as pessoas por estar concentrado na minha respiração.
Escrevo para dizer que tudo é possível para os que sofrem encolhidos nos seus cantos. O primeiro passo talvez seja aceitar que estamos doentes e não pensar que somos anormais aos olhos do mundo. É tudo uma questão de guardarmos o nosso estúpido orgulho no bolso e sim, ir ao psiquiatra (para os leigos, o psiquiatra é aquele que medica que sofre perturbações mentais e não o médico dos malucos).
Há pensamentos que trago sempre comigo durante os meus dias: "Não posso dizer que estou completamente curado"; "tudo o que é chão firme hoje pode não ser amanhã" e outros que me mantêm num certo estado de vigília que me alertam desta doença. É como o batedor que traz notícias de aproximação de um exército. Ele vem avisar-me se o pânico vai me atacar ou não e eu só tenho que me defender, mais nada.

Não menosprezem a doença. Mas acima de tudo e de todas as coisas... NÃO ENTREM EM PÂNICO!!!!!

Vive lá liberté!!!!!

Edmond



A Sala

Passei pela porta de madeira e entrei,
Na sala vazia só com paredes,
De um branco, simples e imaculado,
Decoradas só com uma lareira.
Por cima, as velas dormiam,
Mas já era a hora de despertarem uma chama,
Que iluminasse aquele lugar onde o mundo,
Dançava com a chama de tal fogueira.

Nunca tinha sido envolvido pelo calor,
Que da sua boca expelia o fogo reluzente,
E por cima, contentes, tremeluziam,
As velas que ondulavam a amarelada luz.
Enfeitavam as paredes de bruxuleantes,
Sombras que não ninguém importunavam,
Escutavam só as nossas conversas,
Escondidas como presentes para oferecer.

Eram só palavras que para dar eu tinha,
Nada mais trazia; só palavras e o meu ser,
E com o seu ser, ficamos juntos a olhar,
A maravilha de um pacífico fogo.
Açoitando a madeira, ouvia-se seu chicote,
Sulcando as costas da pobre madeira,
Só a água podia ser salvação,
Mas não era uma floresta. Era só uma migalha.

Mas se o branco parecia tão vazio,
Não dei conta, pois enchíamos bem a sala,
Ébrios de sorrisos e tranquila calma,
Que se expandiam pelos corpos nus e frios.
Mas já quentes do calor envolvente,
Entrelacei-me nos seus braços de pele fresca.
Fui bebendo o néctar de Dionísio,
E de tanto amor que era feito num pardieiro,
Fomos devagar colocando a nossa cor.

Deixaram as paredes de ser brancas,
Pois quase os anjos via, que tocavam,
Melodias celestiais em harmonia,
Soando suas trombetas de latão.
Lá fora o mundo estava quieto, adormecido,
Esquecido na imensidão de nosso canto,
Que pequeno, revelou ser para mim grande,
Pois grande era o que tinha no coração.

Brilho nos olhos; tranquila paz,
Partilha de angústias passadas,
Brincadeiras de crianças, que contentes,
Esquecem as mundanas ignomínias.
Gestos carinhosos, cabelos afagados,
Troca de carícias e abraços, embriagados.
O desejo de eterna ser a noite,
Tudo eram as minhas cores preferidas.

A areia foi deslizando pela ampulheta,
Subi degraus e tombei imensas vezes,
Sem promessas fui cumprindo meus deveres,
Fui ganhando força num dia de cada vez.
Mas cheguei ao topo, passando até as nuvens,
Fiquei perto do céu sentindo só a solidão,
Não querendo ficar por lá muito tempo,
Comecei a minha descida de tal montanha..

Falo de viagens que nunca fiz,
E de sítios onde nunca ouvi falar,
Mas na sala onde tudo era branco,
Fui até ao paraíso que parecia ser eterno;
De subir montanhas, suportando o frio,
Enfrentando ventos furiosos de seu ciúme.
Viajei com a alma; viajei com o corpo,
De mãos dadas com outro corpo e alma.

Nada é eterno. Nada é imortal,
Nem o homem nem a Terra cá ficarão para sempre,
Doloroso é assimilar certo destino,
De verdade absoluta, impiedosa Morte.
Sem darmos conta vamos sendo substituídos,
Por meros objectos que furtam nossa cor,
Ou nosso gosto pela decoração mais íntima.

Os sorrisos são retirados das paredes,
Para dar lugar a um quadro qualquer,
Que nem lá tem a nossa assinatura,
Comprado por tuta-e-meia numa qualquer feira.
As palavras são substituídas por um silencio,
Constrangedor para quem muito falava,
E onde estavam os anjos musicais alegres,
Estão uns cortinados que desmaiam nas paredes.

Candeeiros e caixas que vendem sonhos,
Que riem da nossa pura vegetação;
Já só se fala de contas que nos apertam,
O coração que pulsa de ansiedade.
Já não se salta para cima do canapé,
Livremente; está lá um mais arrogante,
Vistoso, luxuriante que escravizou,
Que dá sono, tédio e estúpido conforto.

Está composta assim a sala de agora,
O que vazio foi já hoje não o é,
Está vistosa, majestosa de bom gosto,
Mas caprichosa, sem me dizer palavra.
Pois no vazio é-me fácil preencher,
Com os encantos que em tempos cultivamos,
Não me curvo perante ela, a vaidosa,
Por ter saudade da simplicidade.

Edmond





Liberdade de pressão

Quem me dera que os meus dias de trabalho fossem assim de vez em quando, não sempre, mas haver dias em que os chefes, esses capatazes dos tempos modernos, estão para fora em reuniões importantes e nos escritórios, fica a raia miúda a trabalhar. Quanto ao meu desempenho de hoje, digo que não podia ser melhor. Estou a ouvir um bom álbum de Iron Maiden, mas esqueci-me de trazer os de Pantera.
Acordei hoje com um sentimento de nostalgia pura. É como ir ao sotão esquálido e abrir um baú de coisas esquecidas, retirar a poeira das coisas e ouvir vozes de um passado alegre, para quem o teve, é claro. E hoje, lembrei-me que dentro de mim ainda existe um sentimento rebelde que me corre nas veias. Mas não e tão explícito.
Ainda tentei escrever um poema sobre a rebeldia, sobre um animal que corre livremente pelo prado que se estende até ao horizonte (palavras assim do género), e lembrei-me de como foi tão bom o meu período da maluqueira. E em grupo era bem melhor. Agora também é bom mas diferente.

Ao ouvir a música que só ouvia no passado, fez-me recordar em que compunha umas boas malhas de barulho na guitarra, conseguindo eriçar os cabelos dos meus pais que me pediam para "por essa merda mais baixo"; dos tempos em que me juntava com a malta que vestia de negro (outros nem por isso, mas não interessava) como um grupo de "Harlequins" ou cavaleiros do Demónio, mas no fundo só queríamos ouvir um som bem fodido, beber umas cervejas e partilhar sentimentos de uma revolta que não sabíamos a sua origem, mas já a sentiamos, e não vinha assim de qualquer lado.
Hoje em dia tenho mais razões para ser rebelde do que nessa altura, pois nesse tempo só tinha os professores a foderem-me a cabeça. Hoje tenho muito mais gente a quem tenho de dar satisfações do meu trabalho, e às vezes da minha vida pessoal para justificar as minhas falhas por não ser um ser perfeito. Não só eu, mas toda essa malta de negra indumentária, que despiu a vestimenta de cavaleiro do demónio e passou a usar fato e gravata de um anjinho. Odeio fato e gravata e todos os que usam, excepto os meus amigos de longa data, sabendo que não trazem sujeira na cabeça e mantem aquela simplicidade de pedir pouco à vida. Às vezes rio-me com escarninho, do 'gang' do fato e gravata que passeiam na hora de almoço. Gosto de observar e ouvir surrateiramente as suas conversas de anjo engomadinho. Digamos que a minha sapiência não sobe de fasquia. Basta olhar para eles para saber logo o que não quero para mim.
Mas sejamos justos. O que às vezes parece não o é, tanto para o lado dos cavaleiros de negro como para os engomados da gravata com cabelo penteado à contabilista de carreira brilhante.

Apetece-me dizer um "FODA-SE!!!" mas não posso, como quando estudava matemática com os meus amigos quase irmãos: "FODA-SE, ESTA MERDA DÁ-ME MAL, CARALHO!!!!, socando a pobre da secretária de madeira. Era o que me apetecía dizer ao meu chefe: "FODA-SE, ESTA RECONCILIAÇÃO DÁ-ME MAL, CARALHO!!!!
Os directores da minha empresa proferem impropérios com uma fluidez da qual me espanta. São todos uns camionistas (não querendo depreciar a casta camionistica) de fato e gravata. Por isso, enganam bem. O sucesso para uma carreira brilhante é ter o cabelo bem aparado, usar um fato caro e passar por despercebido. Mais nada. Engana-se assim muitos ao qual eu não censuro pois cada um sobrevive na selva de betão como pode. O que interessa é chegar ao fim desta vida estúpida que levamos e pensar: FODA-SE: SOBREVIVI A ESTA MERDA TODA!!!! E no fim, já velhinho com a dentadura a escapar-se-me da boca, talvez tenha um sorriso suave e um brilho nos olhos a lembrar a minha vida inteira; talvez as histórias que tenha para contar à irreverente mas necessária juventude, tenha algum interesse e dê motivação para me ajudarem a atravessar a rua. Talvez eles falem do velhote António aos amigos para ouvirem as minhas histórias, do que passei, de quem amei, dos meus pais, amigos, das namoradas que tive, do que escrevi, do que senti, do que odiei, no que acreditei ser melhor para o mundo e para mim. Se me perguntarem o que quero da vida, talvez responda prematuramente que "o que desejo apenas é morrer com um simples sorriso; um sorriso que diga que vivi com alegria, mesmo com as tentativas de lavagem ao cérebro que os meus chefes fazem para esquecer a minha personalidade e substitui-la por um caracter, útil para quem quer subir na vida. O que será subir na vida? Ter um cargo de chefia mas deixar de beber copos com os amigos? Faltar a todos os planos concebidos com gosto da pessoa que se gosta? Repreender? Admoestar? Despedir e arruinar a vida de alguém e sentir essa responsabilidade até ao fim dos meus poucos dias? É ter um carro mais sofisticado? Uma televisão maior? É ficar no escritório na altura do Natal? É dar aumentos a quem me mostra um decote mais ousado quando me pedem para sair mais cedo por ter uma queca combinada com o namorado ou amante, com a desculpa esfarrapadíssima de uma falsa ida ao médico? E eu que pensava que todas estas histórias eram fictícias nos meus tempos de rebelde. Infelizmente, não o são, pois vejo e oiço muito coisa que me repugna com solenidade, e o mais confortável de tudo é acharem que sou ingénuo. Quanto mais chefes conheço mais defensor dos animais me torno, pois dizer que os chefes são uma cambada de animais, não é prejurativo para eles mas sim com os animais, pois com eles temos muita coisa aprender.

Que bom é viver a vida com ingenuidade. Vou voltar a colocar os meus "head-phones" e ouvir outro som fodido!!!!!!!!

Yeah!

Não vou pedir desculpas das ordinarices que escrevo pois considero ser mais ordinário as merdas que eu oiço dos meus chefes.

Adieu, mes amis

Edmond

sexta-feira, outubro 08, 2004

Solidão por um curto instante

Estou só, sentado na secretária habitual,
Rodeado de papéis sem pitada de romantismo.
Afundo-me num mar sem cor,
Sem o brilhante e constante piscar das águas,
Um cardume de raios do grandioso sol,
Que me envolvem de puro prazer.

Foram-se todos embora, e fiquei por aqui só,
E quando regressarem, com o sibilante vento outonal,
Sentir-me-ei só na mesma, mesmo rodeado de gente,
Que se agarra afincadamente aos malditos papéis,
E eu cá me arrasto novamente,
Tentando rumar pelo quadrante que me orientei,
Qual astrolábio, qual utensílio,
Que me revele o Norte ou Estrela Polar.

Aquela persistente dor envolve-me outra vez a mente,
Mas minha cabeça, que lateja de tanto filosófico pensamento.
Cultiva meu intelecto sem cultivar o corpo,
Esculpido pelo cinzel de uma vida atarefada de formiga,
Que não pode parar por qualquer motivo,
Pois não quero estagnar em tão decisiva altura.
Apenas na vida, quero a delicada candura.

Alva cor azul no céu, só não chega,
E eu que ando de feição com o vento ou aragem,
Sinto no rosto a brisa matinal refrescando o raciocínio,
Mas começa o tal declínio,
Quando sou autómato de maquinaria estranha,
Que aprisiona seres pensantes,
Representando um perigo eminente ao reino mundano,
Movido por alguém sem identidade.

É este o sentido da vida?
É este o caminho escolhido por mim,
Sublinhado por arcaicas filosofias e aforismos,
Que aguçam mais minha existência no mundo?
Se for rejeito, pois quanto menos tiver em posse melhor,
Desocupo-me de responsabilidades fúteis que me empobrecem,
Que me esvaziam como um saco que colhe apenas vento,
Apenas vento, nada mais.

Onde estão os fervorosos amigos que tenho,
Abençoados fortemente por um sorridente passado,
Em que felizes andámos só com diálogos nas algibeiras,
Porque outros pertences não havia, felizmente.
Elevo a veemência quando digo que tenho muito porque nada tenho,
Que me ocupe o tempo escasso com perfeitas ninharias,
E quem deseja assim viver, dormindo a fazer contas,
Façam-nos vós e deixai-me a sós na loja dos meus brinquedos.

O que escolho para mim será só esta súbita solidão,
Que tempera o insípido espírito, furtando nossa alegria,
Porque se forma um caracter para sobreviver na selva,
Fazendo autómatos sincronizados na perfeição?
Qual o horizonte que vislumbro através do óculo,
Lente do desejo e do coração que nos diz para onde ir,
Que embaraça o que me embaraça,
E que de preconceitos fazem os pudicos despirem-se?

Categoricamente, rotulam-me com tal leveza,
Que no meu íntimo solto sonoras gargalhadas,
Pois julgam que já sofreram o bastante,
E detentores de uma moral que só no mundo deles existe.
Inquisidores, castradores do pensamento livre e próprio,
Anuncio-vos meu mundo livre e que livre deixa ser,
Não a insolente liberdade que causa burburinhos pelas ruas,
Pois a multidão não pensa por ser apenas manipulada.

O que quero não revelo por ser precioso em demasia,
Há quem inveje livres pensares ou livres seres.
Nos presentes dias sinto que me furtaram,
Um pouco da selvajaria que me guia pela floresta.
Tenho loucos pensamentos e continuo a ser um louco,
Pois vou depositar ao covil dos lobos a revelação,
Do que me move, amo ou penso,
Do que desejo e me alimento que me torna assim único.

Todos sentem a fadiga morder-lhes os braços,
Atordoando-os com palavras de comum universo,
E por outra via, vem cansar quem não se cansa,
Ou se cansa não demonstra seu cansaço.
Dizer-se cansado só serve de subterfúgio,
Quando nos envolve um negrume, não desejando,
Que o negro encobrimento seja contagioso,
Para os que se mais ama, estima, entes queridos.

Doce solidão só por um curto instante,
Servindo de viagem, embarcando na caravela,
Içando as velas com ventos de feição,
No mar mental da fantasia. Maravilhoso!
Mesmo quieto, fechado em quatro paredes,
Não quero estagnar só com o seu branco,
Prendam-me os membros e coloquem-me mordaça,
Pois a mente viaja sempre. Estar preso não me embaraça.

EFB – 08/10/04 (14:14)

quinta-feira, outubro 07, 2004

Given To Fly... e tu quem és?


take the which pearl jam song are you? quiz, a product of the pearljammers community.


a letra:

he could have tuned in, tuned in, but he tuned out
a bad time, nothing could save him
alone in a corridor, waiting, locked out
he got up out of there, ran for hundreds of miles
he made it to the ocean had a smoke in a tree
the wind rose up, set him down on his knee
a wave came crashing like a fist to the jaw,
delivered him wings, "hey look at me now..."
arms wide open with the sea as his floor
oh, oh, oh...
he's flying, whole!
high! wide! oh...

he floated back down cause he wanted to share
his key to the locks on the chains he saw everywhere
but first he was stripped, and then he was stabbed
by faceless men, well fuckers...he still stands
and he still gives his love, he just gives it away;
the love he recieves is the love that is saved
and sometimes is seen a strange spot in the sky
a human being that was given to fly...
flying! whole...
high! flying! whole...
he's flying! woah...
high... woah... oh...

combate ao desemprego

Desde que tomou posse, a 17 de Julho, o Governo de Santana Lopes já nomeou 1034 pessoas, isto até 4 de Outubro. Numa média de 13 nomeações por dia, uma nova nomeação de duas em duas horas.

Paulo Portas, o ministro de Estado, da Defesa e dos Assuntos do Mar é quam mais esforço tem feito na tentativa de diminuri as taxas de desemprego, contando já com quatro secretárias pessoais e seis motoristas.

Se a esta política feroz para baixar as taxas de semprego somarmos o esforço de Durão, que procedeu a 38 nomeações depois de anunciar a sua saída.

Jobs for the boys, boys without knowlodge, more boys for some knowlodge... deve ser por isso!!!

última hora


Agora só falta a TVI confirmar o nome de Luís Delgado como novo comentador dos domingos, esse garante da opinião isenta e só numa de respeitar o contraditório... Telmo Correia!

Tal como Rui Gomes da Silva acha de deve ser, um debate entre Luís Delgado e Telmo Correia.

incompetência faz destas coisas


Não é um homem, é uma instituição...

Marcelo Rebelo de Sousa, ou Marrão como o Ragel o chamou hoje na TSF, era "O" opinion maker do país com as suas homilias dominicais, mas a imbecilidade deste Governo transformou-o numa verdadeira instituição política.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Signs From Earth


Photograph by Peter Essick

It's pretty as a postcard from the air. You'd never guess that Male (above), the island capital of the Maldives, is threatened by the serenely blue Indian Ocean. If scientists' worst-case projections come true and sea level rises more than three feet, the Maldives and other low-lying atoll nations could be underwater by century's end.
nationalgeographic.com

sexta-feira, outubro 01, 2004

sound off