sexta-feira, outubro 15, 2004

Ataques de Pânico

Há uns anos atrás descobri que tinha ataques de pânico. Mas só confirmei que sofria de ansiedade e de outras merdas más, quando resolvi ir ao médico. Nessa altura pensei estar insano.
Para vocês perceberem que doença é esta, imaginem o que é estarem num restaurante, daqueles jantares chatos e secantes do trabalho como o são nos restaurantes que, em vez de relaxar e descontrair, fico mais encolhido. E esse encolhimento vai sendo pregressivamente maior, à medida que o tempo passa e que se fica sem respiração. Inventa-se desculpas esfarrapadas para ir até à casa-de-banho, sem vontade de fazer qualquer necessidade fisiológica, ou vir até cá fora e usar a expressão "vou apanhar ar", e gera-se uma sufocante ansiedade que a merda do jantar acabe. Mas um ainda vai fumar um cigarro, outra levanta-se para tirar a bela fotografia, e nós ali apertados e encolhidos, a pensar que vamos morrer. Sublinhe-se que não se morre de um ataque de pânico mas a sensação que nós temos não desaparece, e as dores de cabeça são desesperadamente dolorosas.
Fartei-me de me esconder no meu sítio, pois mesmo nele encolhia. Sentia-me um bicho fechado num vidro qualquer para experiências laboratoriais; sentia que não era capaz de viver por não ser livre. Olhava em redor e as pessoas riam-se livremente e agonizava-me por não fazê-lo da mesma maneira. Pensava que os tempos do antigamente é que eram bons. Ria-me com vontade, corria, saltava, tinha amigos ao meu lado, tive namoradas como toda a gente, e de repente, vía o meu mundo a ruir aos poucos e aí, entrei em pânico. Foi quando percebi que não estava nada bem, e o desejo de morrer era enorme pois não fazia sentido viver daquela maneira maquinal, e pensava sempre que a culpa era só minha.

Decidi ir ao médico depois de uns anos (o meu primeiro ataque de pânico foi há 6 anos atrás dentro do cinema). Fui atendido por uma mulher asquerosíssima de fisionomia e maneira de ser. Lembro-me perfeitamente de ter vontade de me levantar e chamar todos os nomes aquela criatura, pois sentia-me doente num desespero de alguém que queria deixar de o ser.
Receitou-me uns anti-depressivos e uns ansiolíticos que aliviavam aquela balão que parece termos dentro do peito.
Ao princípio pensava não ser normal como as outras pessoas mas nunca me senti uma pessoa normal nem sei o e nem quero saber o que isso é. Na minha opinião, quanto mais uma pessoa é ela própria mais normal essa pessoa é. Para mim uma pessoa anormal é a que se esforça ser ou ter uma vida que toda a gente tem. E foi assim que começaram os meus ataques de pânico.

Sublinhe-se que cada caso é um caso específico. Acho estúpido generalizar por conhecer apenas um caso, mas digo-vos que muita gente tem o que ainda tenho, pois a doença é controlada e não curada. Note-se que é uma doença psíquica mas com o desenvolver pode tornar-se também física. Não sou especialista na matéria e não tenho sido acompanhado por um especialista de "gente insana", mas quanto mais a assumo e exteriorizo, mais "eu" me sinto; quanto mais faço o que me vai na alma, quanto mais escuto o que o coração me diz, mais normal me sinto e menos pânico tenho da vida. Qualquer pessoa é vulnerável à chamada doença do século, e se querem saber, não pesquiso nada sobre o assunto. Procuro sim aproveitar o tempo fazendo aquilo que quero e tenho vontade. E assim, fui fazendo progressos com a ajuda dos comprimidos para a loucura, como eu lhes chamo. Consegui voltar a estar com os meus amigos, travar conhecimentos com outras pessoas, colorir um pouco o meu mundo em ruínas, ouvir com interesse o que as pessoas me tinham para dizer, pois nessa altura eu nem conseguia ouvir as pessoas por estar concentrado na minha respiração.
Escrevo para dizer que tudo é possível para os que sofrem encolhidos nos seus cantos. O primeiro passo talvez seja aceitar que estamos doentes e não pensar que somos anormais aos olhos do mundo. É tudo uma questão de guardarmos o nosso estúpido orgulho no bolso e sim, ir ao psiquiatra (para os leigos, o psiquiatra é aquele que medica que sofre perturbações mentais e não o médico dos malucos).
Há pensamentos que trago sempre comigo durante os meus dias: "Não posso dizer que estou completamente curado"; "tudo o que é chão firme hoje pode não ser amanhã" e outros que me mantêm num certo estado de vigília que me alertam desta doença. É como o batedor que traz notícias de aproximação de um exército. Ele vem avisar-me se o pânico vai me atacar ou não e eu só tenho que me defender, mais nada.

Não menosprezem a doença. Mas acima de tudo e de todas as coisas... NÃO ENTREM EM PÂNICO!!!!!

Vive lá liberté!!!!!

Edmond



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