segunda-feira, outubro 18, 2004

Conversas da treta

Vim agora do almoço e acabei de ter uma conversa da treta. Quem não tem uma boa conversa da treta? Às vezes são as que sabem melhor pois nem sempre apetece ter aquelas conversas filosóficas e místicas, por sentirmos o raciocínio preguiçoso. Mas para mim tem de ser uma boa conversa da treta. Não ter uma má conversa da treta. E isso tem-se quando somos abordado pela mesma pessoa munida das mesmas frases. Cada vez que encontro aquele espécime tenho de levar com a conversa do género: "Bem, estou cá com um sono que só me apetecia estar em casa" ou o pensamento do dia "foda-se, ainda hoje é segunda-feira e nunca mais chega o fim-de-semana"; e a discussão meteriológica do costume: "O tempo hoje está uma merda" ao qual se consegue responder às vezes "sim, tens toda a razão. O tempo hoje está uma merda". Mas o leque de conversas da treta expande-se até ao horizonte. Querem mais exemplos? "Estou farto disto."; "só me apetece é estar em casa ou na praia"; "A vida é uma merda"; "Nunca mais chega o final do mês"; "Não tenho tempo para nada"; "Não me apetece fazer a ponta de um corno", e outras frases célebres que perfumam um ar de uma tarde chuvosa outunal de segunda-feira.
Antes de mais nada, gostava de dizer, não vão os leitores acharem que sou presunçoso e detentor de toda a moral do mundo, que todas e muitas mais frases desta escadaria pensante já foram em tempos utilizadas por mim, e os meus amigos que o digam. Agora chegou a minha vez de acartar com este tipo de conversas e, sinceramente lamento sentir o estado depressivo das pessoas, mesmo das que nos são mais chegadas. Não deixam de nos preocuparmos por gostarmos delas. Agora para os que nada nos dizem, a nossa vontade é sempre outra: apedrejá-los verbalmente de "vai mas é trabalhar, ó meu calão" ou "eu se fosse a ti já tinha cortado os pulsos. Contribuias sem dúvida para o desenvolvimento do país" ou uma expressão antiga mas eficaz do tipo "pá, vai p'ró caralho!".

Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Sou sincero quando digo que detesto ouvir gente com a mania que são melhores que os outros, e esses são sempre os primeiros aos quais tenho vontade felino de os derrubar psicológicamente e colocá-los no seu devido lugar, como um rapaz que conheci que cada frase que saía daquela boquita que só servia para fumar, era para fazer sentir os outros abaixo dele. ainda lhe cheguei a perguntar se tinha algum problema de afirmação, que falava dos Pós-Modernistas da música clássica, que utilizavam acordes de sétima de nona, invertidos com um ré-bemol ao quadrado, logaritmo de sete. Depois vieram os românticos e os Neo- Românticos que, ao contrário dos Pós- Modernistas utilizavam acordes de sétima maior dissonando com os de menor de nona. Lembro-me de ter contado estas merdas à minha namorada, e ela quase me matou de tanto rir, quando começou a burlar a conversa do outro dos pós modernistas com cenas do tipo "yá, yá, e depois vieram os visigodos e deram cabo disto tudo. Expulsaram os romanos e... olha, olha pergunta lá ao bacano se conhece o compositor chamado Zoloft". Foi um regabofe de riso.

Eu não sei se a melhor coisa a fazer será ouvir e esperar que o tempo passe depressa, ou arranjar uma desculpa evasiva como "Eh, pá. Tenho de me ir embora. É que tenho o javali ao lume", mas tento ser cuidadoso com o que digo às pessoas. Mas os únicos que eu tenho um ombro sempre disponível para virem chorar quando quiserem são os meus entes queridos. Os que não são, peço imensa desculpa mas não tenho lombo que aguente para ti, porque o que realmente gostavas de fazer na vida era beber copos, fornicar, ter luxo sem fazer nada para o ter, fumar ganzas, enfim: intoxicares-te. Infelizmente, meu caro amigo, a vida é mesmo uma merda, mas desculpa lá qualquer coisinha mas vou sair. Tenho de fazer para que a vida seja menos merdosa.

Adieu

Edmond

Sem comentários: