sexta-feira, abril 30, 2004

Ser verdadeiro... para mim


Não estou só... mas então porque sinto uma imensa angústia. Quando fecho os olhos vejo um enorme nada, um vazio... uma arrebatadora solidão.

Não estou só... até poderia brincar com a minha actual situação, muitos porventuraa invejariam. Sortudo diriam. Estás em forma pensariam. Talvez. Aproveita aconselhariam. Estou feliz, o sol aquece-me a alma, os olhos brilham com o reflexo de um imenso mar... mas então porquê este oco... despojado de valor... um encanto solitário.

Não estou só... é saboroso quando alguém nos sente. Saber que ocupo a mente e parte do coração de outrem. Deleite de fazer uma alma rir... pespertar um sorriso de vida... de sons... de sentidos. Honesto, verdadeiro... sentido. Diria, “e que maravilhoso é” estimular emoções, levar alguém a ver o brilho das estrelas... passamos a ser um cometa incandescente... porquê então este sentimento de nada, uma casca superficial... sem gema.

É bem verdade que monotonia, hoje no meu dicionário da vida, está precedida de falta... sinto a sua falta... só um pouco.

Como pedir o que não sei dizer
fora desta página inerte?
Como as línguas que vou roubando
longe desta alma vagueante

Então porquê?

Não estou só, é verdade. Mas sou “só”... esta é agonia. Sou “Só”, sou “Eu”... apenas.
Esta ausência que me oprime não reside numa ânsia de querer atingir um “nós”. É saber que não posso ser a pessoa que pretendo ser para outra, a pessoa que conheço que sou, a pessoa que já fui. É ter consciência que não o posso ser para alguém. Não agora.
Sentir que quando ensinamos alguém a olhar o céu, ela vai ambicionar ver as estrelas... mesmo que não o admita, que não o afirme... mas certos desejos, afectos, têm o seu preço involuntário.

O âmago da minha mágoa e saber que irei causar dor. E que o golpe será desferido no momento mais inesperado... uma lesão violenta. Uma chaga viva, causada por mim. Por MIM... e ter essa consciência, essa verdade interiorizada... dilacera-me por dentro.

Dás-te demasiada importância? Atribuis-te um enorma poder?... coitado, sonhos... ego!

Espero que sim. Queria estar errado... presunçoso! Gostaria que me chamassem de presunçoso.... mas sabes, já o disse várias vezes, sou um distraído... cabeça na lua.... mas reparo nos pormenores. Nas pequenas coisas que tudo revelam.
Que direito tenho em fazer sonhar, quando me preparo para atravessar a porta e fechar o quarto que fica para trás.

Devia ter prevenido. Sorri e dança comigo, o som é quente, faz-nos estremeçer num impulso de loucura, dança e acompanha-me, mas não abraçes, não o faças, não agarres. Hoje vim para dançar sozinho... quando for a dois eu saberei... algo dentro de mim o dirá. Como te disse, eu escuto pormenores.



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