quarta-feira, abril 28, 2004

E as trevas cobriram-me........

Quero dizer ao meu companheiro que tem partilhado generosamente neste recôndito espaço de palavras onde livre se pode ser, que estarei pacientemente à espera do seu regresso. Também eu sinto, mon ami, que às vezes é necessário de estarmos sós numa introspectiva recolha, afastados momentâneamente deste mundo louco. Mas regressa em breve e não fiques durante muito tempo absorto em pensamentos. Chega-te mais perto daqueles que tu mais amas. Estar com eles é um milagroso remédio.


E as trevas cobriram-me....................
A negra cortina caíu e cobriu a luz que me iluminava. Vejo o eclipse do Sol dentro de mim, sentido um silêncio constrangedor e perturbador em meu redor, deixando quieto num canto à espera que seja passageiro.
A alma tem por vezes destas coisas. Tanto nos sentimos iluminados como cobertos pelas trevas que desconhecemos a sua origem. Ou até sabemos e tentamo-nos enganar a nós próprios?
Disse a alguém um dia que quando nos sentimos assim é porque sabemos bem no fundo a origem deste lúgubre aspecto do nosso "ser". Não reconhecemos às vezes é que, mesmo com a rochosa certeza das nossas afirmações, poderemos estar redondamente enganados. Era imprevísivel chegar ao ponto de pensar que as minhas palavras poderiam mais tarde atraiçoarem-me, apunhalando-me agora pelas costas e deixando-me no chão atordoado. Pois é, meu amor. Aquilo que tu sentias naquela noite de intensa e misteriosa bruma, abate-se agora sobre mim, esperando agora que alguma luz afugente este denso lençol que nos impede de vermos para lá dele.
Ainda ontem olhei para alguns da minha estirpe e apenas vi planícies na vida deles, olhando para mim mesmo apenas vendo montanhas e pedregosos percursos que me ferem as pernas. Como eu gostava agora de me deitar e descansar um pouco numa refrescante e verde planície. Cansado ando de querer escalar e descer montanhas com sinuosos e pedregosos caminhos, dos quais me fazem tropeçar e tombar e levantar, tropeçando novamente e tombando outra vez de seguida.
Ó ser inquieto que vive em constante altos e baixos! Que não sossega um pouco como o pássaro que queima a asa pelos raios quentes do Sol, e que não arranja poiso para tratar da ferida e esperar que ela sare, esperando que seja possível voar novamente em busca do seu alimento. Esperar é realmente uma tortura para quem quer continuar a voar alto, mas que para isso, precisa de saber que há que esperar e vêr primeiro se a dor desapareceu, que o sofrimento é maior e o tombo maior ainda tentar voar o mais alto que se deseja, sem ter a percepção que no seu poiso deveria invocar os zéfiros calmos e primaveris que nos invadem o corpo como doce e envolvente calma, e que abrigar-se de uma tempestade é mais sensato do que enfrentá-la por ser uma absoluta impossibilidade....
Sinto ser esse pássaro inquieto.
Mas eis que dou ouvidos a um cântico reconfortante que chega da floresta pelo vento e que me aconselha a ser paciente e esperar até que a bonanza chegue, e depois sim. Depois da ferida sarada e com o céu azul já pouco manchado e trajado com os celestes vestidos de vivo azul, «voa agora, pássaro inquieto. E aprende uma verdade que te será útil para os teus vôos incansáveis e constantes: que saber esperar é ser sábio, e que tentar enfrentar uma força incontrolável com uma vã coragem, é cair e tombar no mar da ignorância. E lembra-te de ouvir aqueles que te amam e que te querem ver a voar novamente, pois saber às vezes dar a eles ouvidos, também é uma nobre manifestação dos que não querem cair a pique desastrosamente nesse negro mar cheio de ignorantes que se afogam no seu próprio e estúpido orgulho.

E as trevas assim se dissipam........................................

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