segunda-feira, maio 10, 2004

"ÀS ESCONDIDAS"

Muito me interroguei se haveria de colocar alguma da poesia que escrevi, durante o período de tempo que me concediam para poder "brincar aos poetas". Já tinha publicado neste recôndito "papel branco" alguns dos meus escritos, mas hoje decidi publicar tudo, como se eu quisesse livrar-me deles e renová-los com outros escritos, e desejar dar continuidade a esta deliciosa brincadeira que é escrever.
Continuem a ser crianças, pois ser só adulto é realmente um tédio, que me rouba toda a minha leveza do ser.

Adieu

Edmond



"ÀS ESCONDIDAS"


Aquela noite...

E agora que para ti eu escrevo desenfreado
Arrisco de tudo não dizer. Ai, triste fado!
Invoco agora os sete mares e os ventos,
E levem agora a ela meus pensamentos.
Duvido que detenha sublime arte
Mas avante. Antes que alguém se farte.
É que escrever, meu amor, para ti...
Enfrento o mundo (complicado já de si).
É como lançar a primeira pedra d’um monumento;
Fazer andar, com carga, teimoso jumento;
Cantar doce ária com uma voz sublime;
Erguer tal torre que toque o céu feita de vime.
Curvo-me só perante a ti, vamos então,
Co’a estas palavras tocar teu coração.
Se não tocar, faz-me apenas um favor.
Não me deixes! Não me deixes, meu amor.

Com cortina negra foi como tudo começou.
Deste palavras. Retribui. Alguém levantou,
O véu pesado de quem vive com receio
Do coração retirei maldito freio.
Desapareceste um dia. Desapareci. Enfim...
Parecia que a aventura estava já no fim.
Mas um de nós (não sei quem foi) recuou
À aventura. Tudo então recomeçou.
Mesmo à espera que de mim tu escarnecesses
Fomos ao encontro numa noite. Num dia desses,
Que até de mim próprio eu escarneci,
Por, como um tolo, comecei logo a gostar de ti.
O céu e as estrelas testemunharam
E assistindo, risos alegres se soltaram.

«Que mulher! E a falar? Como será possível,
Ela vir a gostar de mim. É impossível!
O sorriso que se misturava no negro céu
(Marfim nos dentes, alma alegre dançando ao léu)
Eram irmãs das estrelas e dos astros. Contemplei,
Aquele silêncio; a pândega. A noite amei
Depois o meu coração vacilou:
Sempre em frente, ó coração, que nunca amou.
Os felinos com a ternura de que falaste!
Conheci-os na mesma altura que roçaste
No Zé Gato imponente. Que matulão!
«E quem é este?» Respondeste: «É o Sião.»

Pediste-me que me deitasse no teu sofá,
E que esperasse um bocadinho, que vinhas já.
Voltaste e perguntaste algo sobre mim,
Mas tu falaste, gesticulaste. Fiquei...assim:
«Como ela fala! E as coisas que ela diz!»
Aconchegaste os meus pés, minha flor de lis.
Era hora de ir deitar. Foi então,
Que fiquei nervoso como o gato Sião.
Foste tu que te chegaste. Culpa não tenho.
Fomos os dois um desastre de todo tamanho.
«Foi tão lindo todo o tempo na lareira,


Mas tudo isso escorregou na ribanceira.
O que valeu foi mesmo eu ficar sem,
A auto estima. Mandas-te contar até cem
E o beijo veio, até ele em má hora
«Acho que vou (pensei eu) dormir lá fora»

Mas a revelação dos desejos de nós dois.
Nem foi tão mau, pois não? Logo depois.
E a calma veio-se deitar também connosco,
O equilíbrio, vagaroso, ficou composto.
Foi esta a primeira noite da nossa história.
Ficou escrita no livro da minha memória
No dia seguinte fiquei mesmo aturdido
Reflectindo no que tinha acontecido
Agora vejo que, com medo, não amarei
A prinscipezza que nos tempos eu acordei.
Amo-te mais. Dia a dia e mais ainda,
Não tenho engenho mais. Dou por finda,
A nossa história que, para sempre recordarei.
Amo-te, Haydée. Foste tu por quem sempre eu esperei.

Camafeus

Não mencionarei vossos nomes,
Vendo ansiedade no escrutínio de vossa alma.
Batam palmas à pior de vós,
Mas não se juntem a nós,
Não perturbem a minha preciosa calma.

Ironia má que é ouvir dizer,
De quem me estima e estimo igualmente.
Comentários às escondidas,
Forjados nas sombras
Depois do tombo ergui-me , novamente.

Pelo vento vem, por vezes, o acre
Do hálito linguarudo e abafado das bocas;
Crucifiquem-me, impetuosamente
Punam-me agora cruelmente,
Suas feias, baratas tontas, loucas.

Porque recusais a luz que faz
Crescer todos os seres vivos naturais?
Tendes medo de mim,
Ou sois sempre assim?
Por mim, podem maldizer mais e mais.

Orgulhai-vos das cinzentas nuvens,
Que manchou o azul celeste do meu céu
Invocastes Deus,
Venenosos camafeus?
Que o Sol queime os vossos negros véus.

Apedrejai-me momentaneamente,
Mas que o façam sem faltas de respeito,
Porque quem o fizer,
Sem mesmo saber,
Do entortado ferro, o colocarei direito.

Mas que loucura a minha!
Perder meu precioso tempo convosco,
Que importância tem,
As conversas do ‘Além’?
Dar relevo a vós. Sou muito tosco!

Tenho o Sol e um azul celeste
Sorrio e me contento com tão pouco.
Amo em segredo
Sem ter algum medo.
Amo desmesuradamente como um louco.

Que quereis vós? Sou assim.
Talvez daí provoque em vós a comichão.
Com as unhas, cocem
E em mim não rocem
Em paz eu quero estar na minha solidão.

Tão boa companhia essa,
Acolhe palavras minhas proferidas,
Ela abraça e protege,
A mim, em mau herege,
Não derrama sal nas minhas feridas.

Sofregamente da fonte bebo,
Refresco a alma do abafado calor
Vem beber comigo,
À fonte. Eu consigo
Escalar a montanha, meu amor.

A vós, camafeus do maldizer.
Convicto que vosso veneno só fortalece.
Continuem, por favor
E maldigam com ardor
Que a má fama, falsa, só enobrece.

Para vós eu tenho esta,
Camafeus feios: eu tenho a minha luz.
Respiro liberdade
E guardem a verdade:
Que cada um colhe aquilo que produz.

Deixa-os

Se nos escombros querem ficar,
Recusando descortinar,
A luz divina os trespassar,
Deixa-os!
Se, no fundo, estão no conforto,
Têm já o coração morto,
E no seu meio ficas absorto,
Rejeita-os!
Se tua mão a eles estendes,
E a ti te mordem com os dentes,
E, cambaleando, não te defendes,
Esquece-os!
É que na essência da questão,
Tu ajudas, eles dizem não,
Isso não é ingratidão?
Ignora-os!
Se o dedo eles te apontam,
A tua alma te afrontam,
E a culpa te imputam,
Ilumina-os!
Eles rejeitam a tua luz,
E o efeito que lhes produz,
É a maldade que lhes seduz.
Ilumina-os!
Quem na noite bem se move,
E com a maldade se comove,
Para ti tudo se resolve.
Move-te!
Se rejeitas o escuro buraco
(Esquálido sítio opaco),
Às costas, põe o teu saco.
Ergue-te!
Se de ti muito te invejam,
Com injúrias te aleijam,
Como tal, te apedrejam
Defende-te!
Não és mártir nem Messias,
Nem profeta. Profecias?
Rejeita todas nos teus dias.
Caminha!
E se olhares para trás,
Lembra-te das coisas más.
O que fizeste, tu não farás.
Aprende!
E continua com fulgor,
No caminho do labor,
E se encontrarás o teu amor,
Ama-o!

Se tu desta pobre gente,
Conseguires ser prudente,
E ignorar. Ser indiferente,
Ouve-me!
Passas por eles a cantar,
A sorrir e a saltar,
Sempre sem amaldiçoar.
Alguém por ti será clemente.

EFB – 28/04/04

Estou com pressa!

Depressa!
Estou com pressa.
Preciso mesmo de sair.
Nem que salte
Nem que falte,
Nem que tenha de fingir.

Au revoir,
A toda a gente.
Vou-me pirar indolentemente
Adieu,
Sai do caminho,
Não posso ir devagarinho.

Se não chego,
(Que desassossego!)
Ao destino que eu tracei
Ele escurece,
E não compadece,
Porque é que tanto me demorei.

Vamos lá.
Salta então.
Ai, ai, ai, meu coração.
Que angústia,
Que aperto,
No peito, não sei ao certo.

Assim não,
Meu coração.
Não me falhes nesta momento
Assim sim,
Meu furacão,
Que expele o sangue sem tormento.

Não me aperte.
Não me acerte,
Com o ‘raio’ do seu chapéu.
Não moleste
(Isto é um teste)
Não me trate como a um réu.

Que horas são?
(Que respiração).
Se me atraso não sei que faço
Já não sei
Se chegarei
Vou alongar mas é o passo.

Já não dá.
Eu fico cá.
Não vale já mesma a pena.
Já não sei,
O que farei.
Cruel pressa. Parece eterna.

Amanhã,
Bem de manhã,
Vou-me levantar mais cedo
É que o meu coração palpita
Como um louco. Já tenho medo

De que vale,
Sepulcral
Cruel destino sair à pressa.
Não faz mal,
Não faz mal.
Ainda chego lá. Depressa!.


Depressa!
Estou com pressa.
Preciso mesmo de sair.
Nem que salte
Nem que falte,
Nem que tenha de fingir.

Au revoir,
A toda a gente.
Vou-me pirar daqui
Adieu,
Sai do caminho,
Meu amor vem mesmo dali...

EFB

Fome e Sede

Sinto fome,
Sede,
Cansaço.
Vem a mim,
Dá-me,
Um abraço.
Eu aguento,
O jejum,
Mas já dói.
O rato,
No estomago,
Já rói.
Disse-te,
Um dia,
Uma vez.
Que é bom,
Sentir,
Pequenez.
Mas agora,
Peço-te,
De joelhos,
Tenho fome,
Dá-me
Os teus beijos.
Tenho sede,
Deixa-me,
Beber,
Da fonte,
Fresca água,
A correr.
Sinto-me só,
E ao
Meu redor,
Ignoro
Seja quem for.
Ninguém,
Olha para mim,
Como tu,
Que me olhas
Assim!
Já sinto,
A alma,
Drenada.
Já sinto,
A saudade,
Anafada.
Desejo,
Apenas,


Eu ver,
Meu amor.
Nos braços,
Quero ter.
Não peço,
Ao tempo,
Que passe,
Depressa,
Chegar ao seu,
Desenlace.
Carpe Diem,
Aproveita bem.
O melhor,
Que a vida,
Tem.
Mas dá,
Uma esmola,
A um pobre.
Tens sempre,
Meu amor,
Que sobre.
Dá-me,
Um naco,
De pão.
Pois tens já,
O meu,
Coração.
Cede-me
Um tempo,
Contigo.
Não vás.
Fica agora,
Comigo.
Lembra-te,
Que a vida,
Curta é.
Lembra-te,
É preciso,
Ter fé.
«Então espera,
Sentado,
Deitado.
Paciência,
Louco,
Estouvado.
Tenho de ir,
Agora,
Não posso,


Contigo,
Ficar,
Para o almoço.
Mas a noite,
Espera,
Por nós.
Podemos,
Ficar um tempo,
A sós».
Que alegria,
Me dás,
Prinscipezza.
Esperarei,
Com calma,
E firmeza.
A saudade,
É a fome,
Que sinto.
O beijo,
É a sede
Que finto.
E que tento,
Com custo,
Fintar,
Pões é,
Meu desejo,
Te amar.
Espero,
Que a noite,
Caia.
E espero,
Que à hora,
Saia.
Que alegria,
Me dás,
Prinscipezza.
Ter água,
E pão,
Na mesa.

EFB – 19/04/04

Fugitivo

Para lá não quero voltar,
Outra vez,
Não e não!
Desejo é aqui ficar,
E rejeitar
A escuridão.
Se eu aqui cresci,
Porquê para lá
Voltar?
Se foi lá que encolhi,
Aqui,
Quero eu ficar.

Se da toca de uma lebre,
Não entrava,
Raios de luz.
Para quê? Vivo num casebre,
Aqui a luz,
Se reproduz.
Se viver sempre escondido,
Na caverna,
Numa toca,
Terei depois eu entendido,
Que escolhi,
O que sufoca.

Para lá não vou entrar,
Outra vez. Ai!
Não vou.
Vou tentar aqui esperar,
Que a dor,
Se dissipou.
Sou teimoso, sou rochedo,
Que aguenta,
O imenso mar,
Mas não posso eu ter medo,
Da tormenta,
Do trovejar.

Não quero ser prisioneiro,
Outra vez.
Eu aprendi.
Desejo ser o timoneiro,
Do navio,
Que construi.

Não quero ser forçado,
Das galés,
Ou da prisão,
Quero apenas ser amado,
E amar
Com o coração.


EFB – 28/04/04

Não me interessa...

Quem a mim não me interessa,
Não quero eu perder meu tempo
Queres o quê? Uma promessa,
Provocar a ti o desalento?
Maldiz, se tu quiseres
Por recusar o teu tédio
Não me quero contagiar,
Deixares-me é o meu remédio.

Gostar do que não gosto,
Recuso-me eu solenemente
Amar o que não amo
É enganar-me perfeitamente.
Quem os outros engana esquece
Que em primeiríssimo lugar
É a si que se padece
Por estar a querer enganar

Não me fales. Peço-te eu.
Desvia-te, senhor, do meu caminho,
E se preferires o contrário
Ajudas-me! Quero ficar sozinho.
Chama-me solitário. Pode ser,
Por não querer o teu querer
Chama-me louco, mas com ternura
Por não entenderes minha loucura.

Não me interessa. Não quero saber.
Não me ouves: terás surdez?
Não concordo contigo, amigo
Não partilho dessa mesquinhez.
Não mudo a minha ideia.
Sou assim, que queres que eu faça.
Queres tu, por ventura
Que me transforme numa farsa?

(Que estranha ironia esta
Da gente que a si se engana
Querer mudar a minha alma.
Ó que gente tão profana)
Porque queres tu que eu mude?
Se não te apraz ser como tu, senhor.
Repetindo a ti: não me interessa.
Deixa-me em paz, por favor!

Dedicado à gente que não me aceita e que apenas se conseguem aceitar a elas próprias...................

EFB

O ódio miserável

Choro às escondidas como uma criança,
Que não tem ninguém bondoso ao seu lado,
Para lhe enxugar o rio de lágrimas,
Que escorreram pelo seu rosto contorcido,
De tanta dor,
Pelo seu amor,
Que odiosamente foi picado,
Por quem por ele sente ódio,
De ver a felicidade ilustrada no seu rosto.

Impotente agora me sinto.
O amor dá-me forças,
Mas impede-me de ser um aliado a ela,
Para enfrentar um fantasma de carne e osso,
Que vive no escuro, entregue à barbárie,
De não querer ver ninguém esboçar,
O sublime sorriso da felicidade,
Consumido por um forte ódio,
Que lhe drenou a alma,
Que lhe escureceu o coração.

Que farei eu agora?
Se não posso ser eu a enfrentar esse fantasma,
E empurrá-lo para a caverna onde ele vive,
Mas que veio espreitar cá fora,
Tentando escurecer o nosso Éden,
E fazer ruir o que nós construímos,
Com o gosto e força que o amor nos dá.

Esse Éden,
Esse Paraíso.
Esse cantinho microscópico do globo azul
Tão decorado e colorido pelas mãos do nosso amor,
Harmonioso lar,
Onde é o palco com uma plateia felina e contente
Que vivem tranquilos em comunhão,
Guardiões do nosso humilde e real Paraíso,
Onde eu verdadeiramente vivi e vivo,
Onde eu realmente amei e amo,
Como nunca amei na minha inteira vida,
Onde agora arde,
Pelo fogo lançado de um arqueiro,
Consumido pelo medo de uma alma enfraquecida e à deriva,
Mas revitalizado pela negra força,
Pela água fétida e escura
Que nasce da fonte desse ódio.

Nem vergonha é capaz de sentir,
Nem à frente profere aquilo que lhe vai,
Naquela fraca alma,
Preferindo rastejar no escuro,
Receando a luz que ilumina e que eu não temo,
Mas que queima a pele de quem vive com medo,
Numa caverna esquálida, insalubre,
E fria como a Morte,


Apunhalar pelas costas por ser mais fácil,
Não olhar nos olhos tristes de quem ele odeia.

Como gostava de extinguir este incêndio,
Com as vertidas lágrimas,
Que há pouco refrescaram e aliviaram,
A dor aguda que me fere o coração,
E que ainda me faz sentir atordoado,
Como aquele que é picado pela serpente,
E moribundo,
Caí no chão desamparado,
Adormecendo-lhe os sentidos,
Transformado pelo feitiço,
Em mármore gelado decorando o Paraíso,
Condenado àquele sono eterno,
Esperando o beijo quente e fogoso,
Da sua amada abençoada....
Do seu único amor.

EFB - 30/04/04

O Pastor

Rodeado neste instante,
De olhares predadores,
Guardo meu desejo ardente,
De escrever nos arredores.
É a selva aglutinada,
De leões devoradores,
Que por tudo e por nada,
Fulminam com os seus olhares.
Sabendo que,
Arrisco de ser mordido,
Recuso-me de,
Ficar sempre escondido.

Já basta, que, lá fora,
Em manadas, os carros gritem.
Que cá dentro sem demora,
Que os pequenos escondidos fiquem
A selva cala-se. Agora,
Ruge o maior dos leões.
Estremece a selva na aurora,
Gela o sangue e os corações.
Estou num canto,
Abrigando-me no arvoredo.
Correm em bando,
Fogem as lebres de tanto medo.

Espreito por entre tão agrestes,
Ramos, que me escondem assim mal,
Sou caçado: “Porque te escondeste?
Gritando mais, mais ‘coisa e tal’.
Sacudido do meu abrigo,
Fui levado para um covil,
De lobos esfomeados
Mais estouvados,
Que o velho senil.
Nem perguntam, nem praguejam,
Acusam logo alguém à bruta.
Ardilosa alcateia! Mandaram,
A mim para a labuta .
Lá fui eu,
Parar à selva do labor.
Aconteceu,
De ovelhas, ficar pastor.
Não havia,
Mais nada sem ser,
Aquilo.
Virei pastor. Vamos a ver.

EFB

O teu “bonito”

O teu “bonito” é tão belo,
Gracioso e torneado,
Pintor,
Não posso sê-lo.
Se o fosse,
Tinha-o eu pintado.

Se tu o visses como eu,
O devaneio entenderias,
Escultor,
Seria eu.
O meu mármore tu serias.

Ele é redondo e empinado,
Atrevido como eu gosto,
O “pintor”,
Estava deitado,
Mas ergueu-se bem disposto.

Não te ponhas, “bonito”, assim.
Pára de olhar para aqui.
Minha estima,
Cresce e sobe,
Desejo ardente estar em ti.

Ai, como ele fica,
Com esse traje que ele veste,
Contemplando-o,
Eu desejo,
Escalar agora o Evareste.

Sublime o movimento!
Minha mão, num rodopio,
O lençol,
Eu levanto.
Meu “bonito”: sentes frio?

Não quero que adoeças,
Meu “bonito”, meu formoso.
Dedilhados,
Rendilhados,
Fecha os olhos. Sou cuidadoso.

Num rodopio, a minha mão,
Sente o quente do teu ninho.
Abre-te,
Meu coração,
Palpita só um pedacinho.

Oiço um leve bater d’ asas,
Oiço um doce cantarolar
Um pássaro,
Que, voando,
No formoso quer poisar.

Tem cuidado, ó alpinista,
Na escalada ao meu “bonito”
«Pela tua saúde!”
Aqui,
Nos meus versos, amor, eu cito.

Sua pele é pura seda,
Tecido vindo do Oriente,
Daqui vejo,
O seu sorriso,
Divina luz resplandecente.

O perfume que dele emana
Já em mim, está entranhado,
Todo o dia,
Me acompanha,
Vai comigo p’ra qualquer lado.

Guardei esse perfume,
Honrando sua firmeza.
Tem fogo,
Aquece o lume,
Não sendo um nobre,
Tem nobreza.

Se te incomodo com,
O meu olhar assim maroto.
Minha lira,
Faz ronrom,
Ele ficará absorto.

Mas se não te incomoda,
Deixa-me estar a contemplar,
O “bonito”,
Gracioso,
Sou teimoso,
Deixa-me olhar...

EFB – 19/04/04

Pára!

Pára de me arreliar!
Pára de me chatear,
Com as tuas desculpas de quem me quer ver,
No lodo a chafurdar.
Pára com isso de dizer,
Que sou um inferior ser,
Que sabes de mim, do passado que tive.
Que queres de mim tu saber?

Pára de me infligir,
A culpa, p’ ra te encobrir,
Dos erros teus que cometes, essa fraqueza
De ninguém quereres ouvir.
Vai-te e deixa-me cá.
Vou p’ra ali ou vou p’ra acolá,
Separemos as diferenças que temos os dois,
Não me conheces. Esta é para já.

Pára de me chamar louco.
Pára e ouve-me um pouco,
Não confias em mim e inundas-me de queixas
Julgando o meu trabuco.
Pára de mim maldizer,
Sou assim, que queres fazer?
Não aceitas que sinta, mais do que tu,
A minha leveza do ser.

Paremos com a discussão,
Eu sei que me tens na mão.
Usai-me se tu quiseres e deixa-me aqui,
Na doce solidão.
Às escondidas da gente,
Serei mais ainda, prudente,
Escreverei sobre as minhas loucuras, travessuras,
Sim, eu sei: sou demente.

Eu sei. Já sei que és perfeita,
Já sei que és a eleita.
Molestas-me com as tuas calúnias e injúrias,
És aquela que já tens vida feita.
Olha! Vou-me daqui,
Apanhar ar um pouco, p’ ra ali.
Estou farto. Ainda tenho um enfarte de aceitar,
As palavras que vêem de ti.

Desanimo-me só de pensar,
Que vamos nos aturar,
Será melhor deixares-me no meu canto,
Deixa-me em paz trabalhar.
Sim, eu sei. Estou à frente,
De ti, no lugar. Indiferente,
Para mim eu estar ou não estar. Para ti,
Deve ser perturbante.

EFB – 19/04/04

Pinta!

Vá lá, pinta!
Sem saber ao certo o quê
Pinta, ó linda.
Não precisas de saber porquê.
Agarra,
No pincel direito à tela com jeitinho
E esbarra,
Na tela, a tinta, e segue esse caminho.
Eu ajudo
Escrevo-te para te inspirar.
Serei mudo,
Estarei quieto para não te incomodar.
Começa,
O primeiro traço é sempre um traste
Recomeça,
De novo, se por acaso te enganaste.
Estás a ver?
Não custa nada. Agora é só deslize
Inunda,
O que falta cor, e de quem dela precise.
Estou aqui!
A ler, a escrever, a cantar.
E logo à noite,
Estes versos leio p’ra te embalar.
Mostra lá.
Diz-me tu o que precisas de mim.
Ouve cá.
Lindo! Continua. Assim e assim
Adormeci?
«Já acabei. Quero que tu vejas.
«Já pintei!
Diz verdade c’ o os lábios. Não te mexas!»
«Assim, assim.»
Respondo eu para te desanimar.
«Está lindo, sim.
Não t’ engano por te amar.
«Mentiroso!»
Exclamas tu mui negligente
«Fabuloso!»
Contraponho eu, sinceramente.
Aborrecida,
De pincel na mão outro começas
Entristecida,
A tela pintas, murmurando às avessas.
«Ai é, ai é?»
Vou ler para ali histórias da miséria»
«Pois é, pois é.»
Ripostas tu com o teu ar de séria.
Então eu vou,
Para o quarto. Estarei eu à espera
Se aqui não sou,
Preciosa ajuda. Olha tu: pinta uma fera,
Não sei, não sei,
Se serás mesmo tu capaz
Irei, irei.
«Lá p’ra trás! Lá p’ra trás!»
Vociferas tu
Enxotando-me do atelier
Miau, miau
Vou dar-te um beijo não sei porquê...

EFB

Sim, minha Senhora

«Já fizeste aquilo tudo que te pedi?»
Fiz sim,
Minha Senhora Doutora.
«E aquilo...e mais aquilo que retorqui?»
Está feito,
Está feito, minha senhora.

«Desculpa! Lembras-te daquilo e do outro?»
Lembro-me,
Senhora, minha ‘mãe’.
«Vê lá. Não é preciso ficar absorto
Está bem,
Minha Senhora, está bem.

«Onde vais apressado dessa maneira?»
Vou ali,
Já venho, minha senhora
«Não te demores (mas está ali na cavaqueira!)
Não demoro,
É num instante. Vou lá fora.

Triste sina é nascer burro de carga
“Sim, sim!”,
Curvo-me eu a ela.
Por vezes vem assim c’ a boca amarga
“Pois, pois”
Só me falta na mão a vela

Eu sapos e sapinhos até engulo
Por mais,
Pequeno ou grande seja.
Mas não sou mártir. Às vezes fico fulo,
Ser demais,
Regras estas a mim sobeja.

Incontestável. Não posso mesmo falhar,
«Já fizeste?»
Já fiz – respondo eu que sim.
Raios a partam! Está sempre a espreitar
A ver...a ver
Se eu falho pr’ a descarregar em mim.

Mas cá dentro rio-me tanto. Não por fora,
Por vê-la,
Com a cara dum javali.

Vou comer pois já está na minha hora.
«Não vais, não.
Vais mas é ali!»

Triste alma e mesmo dela compadeço
Sei lá,
Sou assim não sei porquê.
Talvez, já pensei, que o mereço.
«Já fizeste,
Aquilo? Respondo eu: “O quê?”

EFB – 15/04/04

Soldados de hoje...

Trajando com nobre fato e gravata,
Eles marcham em fileiras, com altivo orgulho.
Em frente, honrando,
Seu nome, marchando.
Pelas cidades opulentas causam barulho.

Penteados para um lado; óculos usando,
A gravata, o fato, o brio e ambição.
Sapatos brilhando,
Voam em bando,
Marchando, marchando sem pura ilusão.

Armados de mala, e lá dentro o jornal,
Traçando destinos, batalhas incertas.
Não comem bem,
Gostos não têm,
Vagueiam de dia pelas ruas desertas.

Chispando fogo pelo olhar calculista,
Sequiosos constantes de poder e glória,
«No chão que piso,
O inimigo. Preciso,
Deixa-lo tombado, ferindo-lhe a memória.

Só param à noite. Uivam co ‘a Lua
Correm apressados, loucos, nas ruas
Eles chicoteiam,
Com os outros, guerreiam,
Vidas alheias arruinam. Não as suas.

Orgulhosos dos seus engenhos, dizem:
«Fui Eu que o inimigo fiz tombar,
Devoram o mel,
Lêem Maquiavel.
«Que comigo não ousem sequer brincar!».

E o mundo para ti? Não te importa,
A miséria que infecta o seio da gente?
«Não quero saber!
Deixa-me ler,
O jornal onde sei quem está à minha frente.

E nos outros não pensas tu porquê?
Teus pais, tua mulher que espera por ti.
«Tempo não tenho,
Empecilho tamanho.
Minha carreira que fale só por si.»

Lanceiros de hoje, marchem. Por mim,
Pouco me importa se tombam, se perdem,
Porque as minhas batalhas,
São as minhas ‘malhas’,
Das quais ouvidos atentos me ouvem.

Já fui gendarme por uns dias. Bastou,
Soube ao certo o que p’ ra mim não queria,
Gravata usei,
Fato trajei,
Mas sinto-me mais leve agora, hoje em dia.

Já o escuro azul foi também uniforme,
De soldado da paz lutei, mas ao lado.
Ajudara-me a mim,
Cheguei mesmo ao fim,
Agora recordo com saudade o passado.

Posso? Deixas-me não ser como tu?
Rejeito a ideia de marchar outra vez.
Não me envergonho.
Foi apenas um sonho,
Que tracei um dia na minha pequenez.

E se algum dia querer ser como tu,
Deixarei de existir. Essa farda rejeito,
Soldado sagaz,
A mim? Não me apraz,
Combate e tomba, cidadão perfeito.

EFB – 19/04/04


Tempo


O quão precioso és nestes tempos,
Em que tudo gira e corre velozmente.
Desejo ter-te agora, decididamente,
E poisar nos mais alegres e verdes campos.

Escrever as memórias é meu desejo,
Mas o tempo não tenho. É sincero,
Às escondidas vou escrevendo. Es vero,
Falar-te queria muito mas não te vejo.

Retroceder na História eu queria,
Ver em que berço tu nasceste,
Mas nem pai, nem mãe tu tiveste,
Bastardo és da Criação, sua cria.

Não poderás tu parar um pouco,
Esse teu constante e nobre passo?
Meu destino já perdeu seu traço,
De tanto te pedir, fiquei louco.

Perdi o traço que para trás deixei,
O vendaval enlameou o meu caminho.
Parece que, é certo, ando sozinho,
Procurar um bom abrigo demorei.

És o ácido que, onde cai, envelhece,
Para ti, ninguém nem nada é p’ ra ficar,
Com as estrelas ficas tu a contemplar,
A ver daí do céu, o que desaparece?

Impiedoso tempo, que não deixas,
Dispensar o mundo das tarefas,
Árduas, de cumprir suas promessas,
Que se ouve nos quatro cantos, suas queixas.

Porque alongas, tempo, esse teu passo,
Em momentos doces de felicidade?
No infortúnio, pareces a eternidade,
Dás um nó no coração, até com laço.

Vales tanto como aquele que te compra,
Repito: vales muito mais que ele,
Mais doce e valioso do que o mel,
Mais rápido que a tua própria sombra.

«Não vou parar!», dizes-me tu, insolente,
Arrogante e agressivo! É teu feitio.
Vem ver o que o mundo produziu,
Por causa do teu passo veemente.

Teimas tu não parar e não olhar,
Pelo ombro, o que ficou para trás.
«De mim fiz coisas boas e coisas más!»
De jeito frio, a mim me dizes, sem parar.

Quem te fez? Diz-me agora, tempo imundo,
Que dia foi aquele em que nasceste,
De onde veio a ordem no que fizeste?
Apenas sei Hora, Minuto e Segundo.

Contradizes os desejos do “querer”,
Tu no sono és vigoroso e veloz.
No labor pões a ânsia em todos nós,
És tirânico, travando o meu “poder”.

Misterioso és; ninguém te degenera,
Crias ânsia e pânico em corações,
Impacientes. Desesperam em turbilhões,
Ó tempo, que por ninguém se desespera.

EFB – 22/04/04

Vida imperfeita

Ai, Natureza.
Porque és assim?
És com certeza,
Mistério sem fim.
Ai, Prinscipezza
Ai, meu amor.
Mistério. Não sei,
Sinto o ardor.

Uns vivem bem,
Outros vivem mal,
Estes não têm
Só Carnaval.
Uns para a esquerda,
Uns para direita.
Ó Prinscipezza,
Vida imperfeita.

Preciso parar,
Só um ‘cadinho.
Preciso de pensar,
(Meu pedacinho!)
Porque isto é assim?
Como e porquê,
Mistério sem fim
Que ninguém vê.

Vive-se assim,
Vive-se assado,
Porquê? Porque sim,
Não é revelado.
Uns tanto sofrem,
Uns, nem por isso.
Revela-te a mim,
Oculto feitiço.

Azul, amarelo,
Verde, castanho
Toma um pincel,
Faz um desenho.
Faz qualquer coisa,
Para sempre ficar
Um pássaro que poise,
Um louco a cantar.

Louco que é louco,
Só quer é viver,
Mas viveu pouco,
Até querer morrer.
Viveu, então
Entranhou amargura,
No seu coração,
Mas é agora é ternura.

Viver é esperar,
É preciso saber,
Que ser paciente,
Ajuda a crescer
Obstáculo aparece
Mesmo sendo ruim,
A luta lhe oferece.
É mesmo assim!

EFB – 17/04/04

Viver

Canto,
Salto,
Grito,
Que graça que é
Sentir alegria.
Canta,
Salta,
Encanta
Experimenta sorrir
Só por um dia.

Amo,
Gosto,
Sinto,
Que gratidão é
Eu sinto por isso.
Ama,
Gosta,
Sente,
Não fujas de mim
Que não é preciso.

Choro,
Riu,
Perdoo,
(Grande tristeza
É não perdoar).
Chora,
Ri,
Perdoa,
Não sintas vergonha
De querer amar.

Luto,
Sofro,
Enfrento,
Um dia por dia
Ao amanhecer
Luta,
Sofre,
Enfrenta,
Não morras primeiro,
Antes de viver

Inteligente,
Sobrevivente,
Irreverente,
Com toda a alma.
Falta de engenho
De todo o tamanho
Subserviente
Com toda a calma.

Sou lutador,
Sou teu amor
Sou um guerreiro
Deste meu ofício
Deixa de ter,
Medo de morrer,
Saí da alcova
Do teu suplício.

Beijo,
Abraço,
Gracejo,
Com minha essência do leve ser
Liberta,
Tenta,
Experimenta,
Dar um carinho, retribuir.

Nobre coragem,
Leve aragem,
O vento que muda tua má sorte
Não é da inércia,
Pouco propicia,
Não é fugir que faz de ti forte...

EFB

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