quinta-feira, julho 22, 2004

O voo da mente

Olho pela janela e o que vejo?
Nada. Apenas o quotidiano.
Sinto o som constante do mar piscoso - mas não o vejo;
O calor do Sol e suas maravilhas - mas não o sinto;
O toque da areia fina que escorre por entre os dedos - mas não a piso;
E à noite,
Quando o mundo dorme embalado pela Lua,
Fico deitado na íntima quietude
Contando estrelas no cintilante negro lençol.

Vi o Sol a espreguiçar-se pela manhã,
Erguendo-se solenamente em passos lentos,
Para onde um bando de gaivotas apressadas, voavam
Pois era tempo de despertar o dia.
Chilreando,
E sobrevoando a minha inútil presença,
Cantavam suavemente com a delicada Aurora.
Amanhecia...

Deixei lá na areia todos os meus pensamentos,
Porque o vazio dá espaço a outros...
Outros que agitam mares,
E outros que acalmam águas.
A contemplação tem a oportunidade de esvaziar o pensamento,
Pois quem muito pensa pouco vive,
E cansei-me ser um pensador.
No berço ocioso,
Onde o tédio me invade,
Deixa a responsabilidade para viajar pelos céus das memórias.
E memorável será sempre,
Aquele delicado beijo da Aurora.
Percorreu a calma por meu corpo,
Que agora se entorpece do ofegante tédio,
Que o papel urgente me consome.

Com a mente posso ser gaivota e voar,
Pelo azul que o céu oferece generoso.
E quando na mente uma janela for aberta,
Voltarei a voar livre,
Soando minhas melodias decorosas neste mundo que ruge,
Que aprisiona e vícia as nossas mentes,
Neste laboratório citadino e experimental.

Maldita selva de betão que me oculta o céu.
Como poderei eu voar se não avisto os meus passeios,
Sem pedras alinhadas,
Sem sinais luminosos e proibitivos?
Estaria eu agora num deserto,
Onde não se é proibido e obrigado,
E por entre as dunas de fina areia,
Não se sente ser observado pelos olhos do perigo.
De lá vim eu agora e já sinto a doce saudade...

Se me abrires a portinhola, voarei.
Não ficarei no poiso...

Edmond

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