quinta-feira, dezembro 02, 2004

kaput...

Quatro meses depois, o Presidente da República decide dissolver a Assembleia da República, em nome da estabilidade, a mesma que apenas quatro meses antes tinha servido de base exactamente para o oposto.

O que mudou em quatro meses? O que aconteceu em quatro meses para o Presidente decidir finalmente usar o seu poder constitucional? Porque algo teve de mudar e mudar muito, porque quatro meses não chegam para avaliar um governo.

Há quatro meses defendi a manutenção da maioria social-democrata e continuo a considerar que nessa altura era a medida correcta. Santana, apesar de MAU, era melhor que a alternativa.

O PS renovou-se, tem uma nova e reforçada liderança. Socrates vê-se à frente de um partido que sem mexer um dedo conta com metade das intensões de voto nas sondagens. É obra... a obra do PSD/PP. Mas curiosamente, o PS era o único a não querer eleições antecipadas (e muito inteligentemente). Basta observar as movimentações dos socialistas, que sendo oposição, nunca beliscaram muito o Governo para este não cair – deixaram essse trabalho com o Bloco.

O PSD teve em Santana uma presa de si mesmo. E cometeu dois erros fatais:
- Um comandante só será bom na medida da sua capacidade de escolher BONS imediatos. Santana falhou redondamente e cães de fila como Morais Sarmento e Gomes da Silva ganharam demsiado protagonismo (poder) enquanto outros o perderam (alguém se lembra de Arnaut com Santana).
- o show-off semana após semana de Santana era muito perigoso. Ele falava demasiadas vezes, dizia mais do que devia e muito cedo. Os epísodios com o minístro das finanças, em que um dizia que não podiam haver aumentos e o outro aparecia a prometer aumentos para todos... e lá tinha o ministro ter que se desmentir e fazer contas. Santana foi sendo grelhado em fogo lento por (quase) todos os corifeus da política e da comunicação social, mas também foi um dos principais fornecedores de lenha...

O que mudou em quatro meses? Para mim foi simples... Sampaio não queria ver Ferro como 1º. Estavamos a chegar ao prazo limite sobre o qual a sombra presidencial e da dissolução deixariam de assombrar o Governo. E Sampaio estava farto de ver tantas vezes este Governo nas páginas dos jornais por questões que não deviam.
Porém, parece certo e inequívoco um facto - se o Professor Cavaco, não tivesse escrito o que escreveu no último fim de semana, tudo seria diferente. Mesmo tudo.


E agora?

Santana Lopes devia demitir-se. Parece estranho, mas devia o fazer. O Presidente dissolveu a AR, o que na verdade é manter o Governo em funções por agora, mas com um atestado de incompetência. Um minímo de verticalidade a isso obriga e não andar pelas televisões qual bebé chorão a dizer que não concorda e a lamentar-se quem ninguém foi a seu berço fazer festinhas e só dar palmadas... Tiste. Mas ele não vai fazer isso.
Ele agora controla o partido, em todos os seus orgãos... ele vai a eleições, vai perder e terá quatro anos para procurar limpar a imagem.
Porque isto é mesmo assim. Guterres era odiado e agora é nome viável para Presidente. Durão era uma merda e agora até é um tipo porreiro e competente (até é o “presidente da Europa!!!”).

Socrates vai ser 1º... o que é mau.
Socrates é uma outra face de Santana, em postura, na forma de estar e pensar. A Solução deveria vir do próprio PSD (mas isso são sonhos). Para mais, ele nem queria, não para já.
Pese o recato de Sócrates, que veio informar o País que só não pediu publicamente a dissolução da Assembleia a Sampaio para não pressionar (!) o inquilino de Belém, há desde já uma ou outra conclusão a tirar, e uma delas é que as instituições funcionaram mal e divorciadas do mundo real. Ninguém, do sistema, ousou pedir formalmente a dissolução ou sequer lançar uma moção de censura no Parlamento. Ninguém.
Não se pense, porém, que está tudo definido ou que já são tudo favas contadas para Sócrates, porque isso, mais uma vez, é não conhecer o Dr. Lopes e os seus acólitos. Farão tudo, rigorosamente tudo, para lançar a confusão.

Estranhamente quem irá ganhar com isto tudo são os pequenos e nas pontas... PP e Bloco de Esquerda. O Bloco porque se o PS não conseguir chegar aos 50% volta a ganhar o peso que teve na primeira legislatura de Guterres. E mais estranho é o PP, que vai ganhar!!! O PP, ao contrário do PSD, é um partido que pode volta à campanha das feiras e dos beijos às velhinhas, é um partido que pode voltar a ser pequeno, sem nada perder – pois sempre o foram -. Para mais o PP chegou onde não pensava chegar e tirou mais proveito de todos – chegou à máquina do Estado, 1 em cada 3 boys que foi colocado por Durão/Santana/Porta é do PP, nada mal!!! – e tem ainda um trunfo, chama-se Santana e votos que podem fugir do PSD. E tirando a Ferreira Leite, quais os ministros que ficaram um uma imagem (minimante) positiva. Não foi Portas, de facto, quem estourou com esta legislatura; bem ou mal, cultivou com eficácia (quem se lembra hoje de Cardona?) a imagem de que os seus ministros eram mais competentes e trabalhadores que os dos PSD e vai pescar votos a um eleitorado PSD, puro e duro, que não se vai abster, não vai votar branco ou nulo, ou engolir um crocodilo chamado Santana, preferindo votar no PP. Não precisam de ser muitos votos, mas vão ser os suficientes para manter o PP na linha da frente, por mais uns anos.



Para final de super post (fosgasse que o gajo ficou grande) três notas mentais...

O Sampaio até tem sentido de humor... pá o tipo dissolveu a AR na véspera da Restauração da Independência.

Depois do caos Santana, a bandalheira PS.

E se serve de consolação: "A Ucrânia está pior".


Bem haja,

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