sexta-feira, agosto 13, 2004

Viagem no Metro

As viagens nesse transporte maravilhoso que atravessa Lisboa de uma ponta à outra, é hilariante. e para quem tem uma imaginação fértil no cultivo de idéias para se distrair enquanto não chega ao destino pretendido, melhor ainda.

Em Agosto é um pouco díficil das viagens serem um bom episódio para contar a quem nos queira ouvir. Mas deixem passar esta escassez de gente na grande metrópole, e aguardem pacientemente por pela época de regresso às vidinhas que geram o grande movimento na grande Lisboa.

No Metro vê-se de tudo. É um bom laboratório para quem seja curioso no estudo aprofundado do ser humano. Nas expressões encolhidas dos rostos de gente impaciente, está tudo escrito na sua fronte. Quantas e quantas vezes, não apanhamos aquelas marés de gente, engaioladas numa qualquer carruagem, e naquele espaço de 5 minutos, passam-lhe pela sua mente milhares de pensamentos, para quem não vai absorto nas preocupações que consomem uma preciosa observação? Não é com malícia que olho para as pessoas. É porque a ansiadade entediante de chegar ao destino pretendido, germina em nós um despreocupado cruzamento de olhares, com as mais variadas pessoas. E agora que o Sol emana de si o seu calor que amolece a alma e nos encolhe a vontade do trabalho, e que faz expelir de nós aquele suor que nos mancha debaixo dos braços, perfumando a carruagem com a essência do "hoje trabalhei bué", com os braços peludos e encharcados do sumo extraido do labor. Ah, esse cheiro... E quando várias pessoas se agarram ao mesmo verão de metal, quente de tanta gente se agarrar a ele, como um ponto de salvamento de um possível desiquilíbrio, de pressões de pessoas impacientes e perfumadas de um civismo de bradar aos céus? Gosto particularmente, daquelas senhoras anafadas e gastas pelas vicissitudes domésticas e familiares, com um cheiro a bafio insuportável de quem não extraiu de si a sujidade pela manhã, e o seu hálito é um cheiro misturado a refugado do dia anterior com a podridão dos seus dentes que apenas são lavados nos dias de casamento e batizados dos filhos e sobrinhos? Já para não falar do regimento de pedintes dos mais variados tipos e feitios, em que, dominando a técnica do Marketing de arranjar diversas formas de pedir, como o cão que vai pendurado ao ombro, pendurando pela sua ferradura, um cestinho preso por um cordel, enquanto o seu dono de 14 anos, a um possível mandato dos seus pais, vai enchendo aquela carruagem de gente apressada, sisuda, preocupada e mal acomodada, de melodias que vai desde o "Apita o comboio" ou "lá vai Lisboa..."?

E eis que chega a apoteose de uma pequena viagem de Metro: loira, metro e oitenta (com salto alto - 1,57 sem salto), com o cabelo liso a descair-lhe despreocupadamente pelas costas, olhos azuis, seios que saltitam querendo sairem da cerca feita por uma camisola que, se eu fosse seio, ficaria com falta de ar só com o aperto, calças justas, a notar-se-lhe o vinco de um pequeno resgaurdo interior, que milagrosamente, fez com que os olhos de toda a raça do sexo masculino (incluindo o velhote de 75 anos que até deixou descair a dentadura), a chispar de um fogo ardendo de desejo, transfomando aquela carruagem numa arena recheada de leões, com um apetite bem voraz, capaz de levantarem sozinhos a estátua do Marquês de Pombal. Nessa altura, o mais respeitador perde todo o seu respeito e olha desmesuradamente; o mais sem-respeito, se áinda detinha em si uma réstea, perdeu-a naquele momento; o homem charmoso de facto de corte direito, endireita-se mais um pouco perante a bela mulher; o rapaz com "rastas" fica completamente de rastos; aquela que pensava ser a mais bela da carruagem, cora de inveja´, retirando da sua mala o instrumento de maqueagem; e, todos... mas todosque crivaram naquela bela mulher, olhares com esse ardente desejo, não recebem...nem um da parte dela. E saí toda a gente nos seus destinos, alíviados por não deterem naquela Helena de Troia, mais os seus olhos por ser demasiado turtuoso e fustigante olhar apenas...

Olhares sonhadores, pensadores,apressados, irritados, flagelados, preocupados, rebarbados e outros, são o suficiente para inventarmos sobre essa estirpe metropolitana, todas as histórias imaginárias e decorativas em dias de um cinzento atroz, que ajuda a enganar o tempo durante a secante viagem até ao lar, quando sozinhos, atordoados com as atrocidades do trabalho, faltas de dinheiro, mulher, filhos, pais, irmãos, irmãs, espirais depressivas, vontades de gritar, sufocos, apertos, ataques de pânico, pé de atleta, falta de erecção, casa para pagar (sublinhe-se que erecção vem antes da casa para pagar), tudo serve para nos rirmos um pouco, no meio de um silêncio frio e cortante que mortifica a alma, que condimenta uma simples e hilariante viagem de Metro.

Au revoir

Sem comentários: